USAMOS SOMENTE 10% DO CÉREBRO?

ISSO É UM MITO .
Conclusões da área sobre
como o cérebro aprende trazem à tona questões tratadas por grandes teóricos da
Psicologia, como Piaget, Vygotsky, Wallon e Ausubel. Saiba como elas podem
enriquecer as discussões sobre o ensino
A emoção interfere no
processo de retenção de informação. É preciso motivação para aprender. A
atenção é fundamental na aprendizagem. O cérebro se modifica em contato com o
meio durante toda a vida. A formação da memória é mais efetiva quando a nova
informação é associada a um conhecimento prévio. Para você, essas afirmações
podem não ser inovadoras, seja por causa da sua experiência em sala, seja por
ter estudado Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896- 1934), Henri Wallon
(1879-1962) e David Ausubel (1918-2008), a maioria da área da Psicologia
cognitiva. A novidade é que as conclusões são fruto de investigações
neurológicas recentes sobre o funcionamento cerebral.
"O que hoje a
Neurociência defende sobre o processo de aprendizagem se assemelha ao que os
teóricos mostravam por diferentes caminhos", diz a psicóloga Tania Beatriz
Iwaszko Marques, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), estudiosa de Piaget. O avanço das metodologias de pesquisa e da
tecnologia permitiu que novos estudos se tornassem possíveis. "Até o
século passado, apenas se intuía como o cérebro funcionava. Ganhamos
precisão", diz Lino de Macedo, do Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo (USP), também piagetiano. Mas é preciso refletir antes de levar as
ideias neurocientíficas para a sala.
A Neurociência e a
Psicologia Cognitiva se ocupam de entender a aprendizagem, mas têm diferentes
focos. A primeira faz isso por meio de experimentos comportamentais e do uso de
aparelhos como os de ressonância magnética e de tomografia, que permitem
observar as alterações no cérebro durante o seu funcionamento. "A
Psicologia, sem desconsiderar o papel do cérebro, foca os significados, se
pautando em evidências indiretas para explicar como os indivíduos percebem,
interpretam e utilizam o conhecimento adquirido", explica Evelyse dos
Santos Lemos, pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de
Janeiro, e especialista em aprendizagem significativa, campo de estudo de
Ausubel.
As duas áreas permitem
entender de forma abrangente o desenvolvimento da criança. "Ela é um ser
em que esses fatores são indissociáveis. Por isso, não pode ser vista por um
único viés", diz Claudia Lopes da Silva, psicóloga escolar da Secretaria
de Educação de São Bernardo do Campo e estudiosa de Vygotsky.
Sabemos, por exemplo, com
base em evidências neurocientíficas, que há uma correlação entre um ambiente
rico e o aumento das sinapses (conexões entre as células cerebrais). Mas quem
define o que é um meio estimulante para cada tipo de aprendizado? Quais devem
ser as intervenções para intensificar o efeito do meio? Como o aluno irá
reagir? "A Neurociência não fornece estratégias de ensino. Isso é trabalho
da Pedagogia, por meio das didáticas", diz Hamilton Haddad, do
Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da USP. Como, então, o
professor pode enriquecer o processo de ensino e aprendizagem usando as
contribuições da Neurociência?
Para o educador português
António Nóvoa, reitor da Universidade de Lisboa, responder à questão é o grande
desafio do século 21. "A estrutura educacional de hoje foi criada no fim
do século 19. É preciso fazer um esforço para trazer ao campo pedagógico as
inovações e conclusões mais importantes dos últimos 20 anos na área da ciência
e da sociedade", diz.
Ao professor, cabe se
alimentar das informações que surgem, buscando fontes seguras, e não acreditar
em fórmulas para a sala de aula criadas sem embasamento científico. "A
Neurociência mostra que o desenvolvimento do cérebro decorre da integração entre
o corpo e o meio social. O educador precisa potencializar essa interação por
parte das crianças", afirma Laurinda Ramalho de Almeida, professora do
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), e especialista em Wallon.
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