Mas você pode perguntar: "professora Isabel, por que o blog está dando ênfase a uma redação tendo em vista que é um blog de História?"
Bom, antes de ser um blog de História, somos um blog de informação e de valorização cultural. O Iury não só ganhou o prêmio de melhor redação como também abordou na redação um tema polêmico e que merece nossa atenção: O PATRIMÔNIO HISTÓRICO.
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Foto do arquivo pessoa de Iury Vasconcelos |
Na cidade de Fortaleza, onde moro, existe a cultura do derruba. Aqui nossos governantes e a própria população, não tem amor e respeito a nossa história patrimonial e a nossa memória.
Sendo assim, uma praça da cidade, Praça Portugal, que já existe desde 1947 e que agora, em 2015, será demolida para satisfazer interesses da prefeitura da cidade. Interesses estes que não vão de encontro com a nossa história.
O estudante, elaborou um texto digno de ser lido e refletido sobre o tema.
Parabéns Iury Vasconcelos por sua iniciativa. Desejo mais sucesso!!
Segue a redação na íntegra.
Que rufem os tambores, não
os tratores!
Enquanto na antiga Grécia
as praças eram lugares onde as grandes decisões eram tomadas – as famosas
ágoras –, em Fortaleza é em gabinetes fechados que se decide o destino da Praça
Portugal, cartão-postal de nossa cidade.
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Praça Portugal de Fortaleza |
A substituição da praça
por um cruzamento está previsto do Plano de Ações Imediatas de Transporte e
Trânsito (Paitt), apresentado pela prefeitura de Fortaleza. Já na primeira
intervenção feita em nome do Paitt, mais de duzentas árvores dos canteiros
centrais das avenidas Dom Luiz e Santos Dumont foram removidas, sob o argumento
de que a eliminação dos canteiros irá melhorar a fluidez do tráfego naquela
região. A cidade, que já assistiu a alguns descasos relacionados à preservação
do patrimônio histórico e cultural, entre eles a paulatina substituição dos
casarões da Avenida Santos Dumont por modernos prédios comerciais, inquieta-se.
Agora é a vez de a Praça
Portugal deixar de existir. Na tentativa de impedir que isso aconteça, o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entrou com um
pedido de tombamento da praça como patrimônio municipal, o qual foi prontamente
negado pelo Conselho Municipal de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural
(Comphic), numa clara demonstração de contradição às suas principais funções:
preservação e manutenção da cultura e da história da cidade. O projeto também é
criticado pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
Um olhar da Praça Portugal
pela janela (FOTO: Adriano Macedo)Um olhar da Praça Portugal pela janela (FOTO:
Adriano Macedo)
Contudo, as pessoas que
veem a praça apenas como uma rotatória concordam que ela deixe de existir para
dar lugar a um cruzamento. Modelos de rotatórias semelhantes à da Praça
Portugal são facilmente encontrados em países do Primeiro Mundo. Podemos citar
o Arco do Triunfo, em Paris, e a Praça de Tetuan, em Barcelona, o que torna
inaceitável a tese de que a Praça Portugal é um impasse ao trânsito de
Fortaleza.
Sabemos que enfrentar o
trânsito em nossa cidade é um verdadeiro teste de paciência. Em horário de
pico, fileiras de carros, motos e transportes coletivos se formam pelas
principais ruas da cidade, e chegar ao destino desejado virou um desafio. Não
acredito que sacrificar a praça seja a única forma de solucionar esse problema,
mesmo porque a construção de túneis também foi cogitada e, certamente, evitaria
toda essa polêmica. Para o ambientalista José Sales, não é a praça que
influencia o trânsito, mas uma série de fatores, como a falta de fiscalização e
os estacionamentos irregulares.
O juiz Manoel de Jesus da
Silva Rosa concedeu liminar impedindo que a prefeitura inicie as intervenções
na Praça Portugal; entretanto, o prefeito já anunciou o início das obras para a
primeira quinzena de setembro. É preocupante perceber que ainda há grandes
chances de esse projeto seguir adiante.
Demolir praças, derrubar
árvores… será mesmo a solução? Assim como o pedestre deve vir antes do carro e
o transporte público antes do privado, os espaços públicos devem vir antes de obras
de trânsito. Sou contra intervenções que atropelem a memória de uma cidade em
nome do moderno, do novo. Dessa forma, precisamos exigir uma ampla discussão a
respeito das ações que estão sendo implementadas na atual administração
municipal.
Assim, pensar, discutir e
debater o futuro da cidade é necessário. Não podemos permitir que gestores
temporários, em nome da mobilidade urbana e do “desenvolvimento”, apaguem a
memória da cidade. Não podemos fechar os olhos ao que acontece ao nosso redor
sob pena de, na calada da noite, sermos acordados pelo “rufar” dos tratores a
derrubar a praça e de nos lembrar que, em um dia não muito distante, já
amanhecemos sem as árvores. Que a sexagenária Praça Portugal possa permanecer
no coração do bairro Aldeota, com sua simbologia, sua beleza, sua história.
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