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LEIA AQUI O REGULAMENTO
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DICAS:
- Quanto às questões de múltipla escolha há um ponto extremamente importante a ser relevado: não é igual uma prova comum.
- Isso porque dentre as 4 alternativas disponíveis, 3 estão certas e 1 está errada, sendo que dentre as 3 certas, uma é mais certa que todas as outras. De acordo com a alternativa que você marcar você ganhará (0, 1, 4 ou 5) pontos, sendo 0 a errada e 5 a mais certa.
- A olimpíada fornece charges, trechos de livros, letras e clipes de músicas, trecho de artigos, obras artísticas (e qualquer outro tipo de texto, verbal ou não verbal), além de links no final de cada questão como referências de estudos. (Ainda explanaremos melhor isso).
FASE 1 -
QUESTÃO 1
"Família,
primeiramente eu queria deixar bem claro
Que eu não to aqui pra
representar o rap feminino não, certo?
E muito menos o masculino
Eu to aqui pra representar
o rap nacional
E eu peço que respeitem a
minha identidade de gênero, demorou?
Ficou mais ou menos assim
Caneta e papel na mão
Pra mim é melhor que
remédio
Enquanto eu vou escrevendo
Não sobra espaço pro tédio
Aonde eu vou parar, não
sei
Eu tô pensando a mais de
um mês
E o que eu tenho visto
Eu vou falar procêis
É tanta arrogância, tanta
prepotência
A sanidade tá escassa no
mundo das aparências
Não se cale jamais diante
do opressor
Não deixe que o sistema
acabe com seu amor
Ae, Triz! O seu som é
muito bad
É que, irmão, isso é rap
Quer dançar, escuta Ivete
Poesia visionária que
atinge o coração
Eu falo sim da tristeza
pra que haja compreensão
E como de costume eu vou
tocando na ferida
Falando dos preconceitos
sofridos no dia a dia
O rap existe pra mostrar
A verdade e a dor
É um grito de dentro pra
fora
Clamando pelo amor
Ae, motô
Boa noite pro sinhô
Preciso chegar no centro
Posso entrar por favor?
Vai lá menor
Mas vê se não se acostuma
Te aviso quando chegar
E cuidado por essas ruas
Tamo junto, irmão, boa
sorte na caminhada
A multa já foi constada,
então vamos nessa bala
Sempre na humildade cê
consegue o que quiser
E eu tô nessa jogada até
quando dá pé
E já que o flow é meu
Eu vou mandando é logo a
boa
Essa é a minha realidade
Não gostou, procura outra
Já tenho muito perreco
Pra me preocupar
Faltou a companhia
Na minha sala de estar
Eu gosto daquela dama
O cheiro dela na minha
cama
Nossos corpos são iguais
E juntos vão ardendo em
chama
Mas não tô aqui
Pra desmerecer ninguém
O que mais tem no mundo é
gente
Não vai faltar pra você,
irmão
Vou te falar a situação
Vários preconceituoso sem
respeito e sem visão
É vários fiscal de cu,
muita alienação
Foda-se se o mano é gay, o
que importa é o coração
E eu já me liguei como
funciona o preconceito
Mas sinto em te informar
que não tamo pra escanteio
Se te falta o respeito, cê
não sabe de nada
Segue no seu caminho que
eu vou na minha estrada
Onde isso vai parar?
Se eu nasci com dom, eu
sei que vou continuar
Eu cheguei na cena, fiz um
poema
Pro seu coração escutar
O preconceito não te leva
a nada
Não seja mais um babaca de
mente fechada
Por que o ódio mata, mas o
amor sara
De qual lado cê vai ficar?
Brasil, país que mais mata
pessoas trans
Espero que a estatística
não suba amanhã
Me diz, por que o jeito de
alguém te incomoda?
Foda-se se te incomoda
É meu corpo e minha
história
E sobre a minha carne, cê
não tem autoridade
Não seja mais um covarde,
de zero mentalidade
Seja inteligente, abra a
sua mente
O mundo é de todos, não
seja prepotente
Seja gay, seja trans,
negro ou oriental
Coração que pulsa no peito
é de igual pra igual
O individual de cada um
não se discute
Seja elevado, busque
altitude
Zé povinho falou: Vai
fazer a sobrancelha
Dar um trato no cabelo e
mudar sua aparência
Eu acho que é mulher, eu
acho que é um homem
Eu acho que cê tem que
vestir esse uniforme
Primeiramente: você não tá
na minha mente
Segundamente: seu
raciocínio é deprimente
O que cê acha de mim, num
importa irmão
Que diferente de você, eu
tenho educação
Não tenho obrigação de dar
satisfação
Mas aqui, cê tá ligado que
é pura informação
E pra quem quer saber, o
meu gênero é neutro
Cê não precisa entender,
só precisa ter respeito
Você não ganha nada sendo
um atrasa-lado
Seu conservadorismo já tá
ultrapassado
Cê quis me derrubar ainda
dando risada
Mas a luz da minha luta
sua bala não apaga
Você me insultou julgando
minha aparência
Só se esqueceu de ver o
brilho da minha essência
Falou do meu cabelo, meu
dente separado
Mas garanto que elas não
reclamam do que tem provado
Elevação mental
Nesse flow que eu vou
levando sempre na moral
Hipocrisia me rodeia e os
bico paga um pau
Mas sigo firme, nada abala
o meu ideal, irmão
E não tire suas conclusões
sem saber do meu proceder
Antes de falar mal de mim,
te convido a me conhecer
Um salve pra quem fecha,
que os moleque são da hora
Em meio a tanta maldade
ainda tem quem se salva
Onde isso vai parar?
Se eu nasci com dom, eu
sei que vou continuar
Eu cheguei na cena, fiz um
poema
Pro seu coração escutar
O preconceito não te leva
a nada
Não seja mais um babaca de
mente fechada
Por que o ódio mata, só o
amor sara
De qual lado cê vai
ficar?"
MARQUE O ITEM
(A) A “elevação mental”
implica abandonar o conservadorismo em favor da aceitação da diferença; a
canção pede que o interlocutor escolha entre o ódio e o amor.
(B) A canção menciona a
violência contra transexuais há muito praticada no Brasil e confirmada por
pesquisas recentes como as da ONG Transgender Europe e divulgadas em 2018.
(C) A identidade de gênero
difere da orientação sexual de uma pessoa, e pode ser alterada por meio de
tratamentos ou uso de determinadas cores.
(D) O conflito entre
padrões culturais e a identidade de gênero é tema recorrente na canção.
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QUESTÃO 2 -
UM CANTO NO MEU ATELIÊ, 1884 - ABGAIL DE ANDRADE
QUADRO

OBSERVANDO O QUADRO E A TRAJETÓRIA DA ARTISTA PODEMOS AFIRMAR:
Alternativas
(A) Abigail de Andrade
recebeu a medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes de 1884, no Rio de
Janeiro.
(B) A ideia de “musa” é
rompida ao reforçar o domínio técnico e a ação da artista em seu ambiente de
trabalho.
(C) O quadro retrata uma
pintora que trabalha de costas para quem vê o quadro e conversa com uma mulher
que está na janela, foco de luz da imagem.
(D) A pintora na obra
busca exemplificar como a natureza morta era um tema fundamentalmente feminino
na pintura.
QUESTÃO 3
A Falência (Júlia Lopes de Almeida)
Literatura
“(...) A dor fazia-o
desconfiado, temia que o amor da família não subsistisse à catástrofe.
Em que fizera ele até
então consistir a felicidade e o seu merecimento aos olhos dela? No dinheiro,
só no dinheiro. Ele era bom porque sabia cavar a fortuna, encher a casa de
joias, de fartura e de conforto. Ele era bom, porque, tendo partido de coisa
nenhuma, chegara a tudo visto que o dinheiro é o dominador do mundo e ele tinha
dinheiro.
Ainda não compreendia como
tendo trabalhado tanto, juntado com tão tremendo esforço em tão largo período
de sacrifícios, deixara agora tudo por água abaixo em tão curtos dias. Desfazer
é fácil!
Revoltado contra si, Francisco
Teodoro cravou as unhas na calva, chamando-se de leviano e miserável. Como toda
a gente que se riria da sua falta de senso. A culpa era dele deixar-se levar
por cantigas com a sua idade e experiência! Sentia ferver-lhe o ódio por todos
os amigos que o tinham inebriado com palavras perigosas e fúteis. Então todos
chamavam o Inocêncio Braga de honrado, perspicaz e arguto. Agora, depois de
tudo feito e perdido, é que o diziam um especulador sem consciência. Mas agora
era tarde; estava tudo perdido.
(...)
Pela primeira vez
Francisco Teodoro percebeu que há na vida uma coisa melhor do que o dinheiro: a
mocidade. (...)
‘Velho... estou velho!
Pensava ele, já não sirvo para nada. E agora? Para onde há de ir esta gente,
que eu mesmo habituei a grandezas? Para o sobradinho da rua da Candelária? Nem
isso. Camila naquele tempo contentava-se... agora já se afez a outra coisa.
Camila! Camila sem sedas? não , não se pode compreender Camila sem sedas. Onde
tinha eu a cabeça? Miserável! Eu sou um ladrão, roubei a meus filhos. Eu sou um
ladrão!’
Como se quisesse fugir das
próprias idéias, começou a andar pelo escritório, com ar desvairado. Vingava-o
a sensação de que tudo agonizava com ele.
A especulação, a fraude, a
ganância, a traição e a mentira, iriam roendo e corrompendo fortunas e
caráteres. Enganados e enganadores seriam engolidos conjuntamente pela outra
falência, de que a sua era uma das precursoras.
No fim, havia de aparecer
a justiça punindo as ambições e as vaidades destes tempos e destes homens
doidos, quando depois de tudo consumado, não houvesse nada a refazer mas tudo a
criar.
A pulsação do seu sangue
alvoroçado dava-lhe a percepção fanática de que o Brasil seria arrastado
vertiginosamente pela maldade de uns, a ignorância de outros e a ambição de
todos, em voragens abertas pela política amaldiçoada.
Já não culpava o patrício,
o Inocêncio Braga, como causa direta da sua ruína. A responsabilidade da sua
perda caia em cheio sobre a República, que ele invectivava de criminosa, na
alucinação do desespero.
(...)
Francisco Teodoro olhou
para a noite:
O luar estava lindo,
boiava no ar morno o aroma das esponjas e dos manacás, que a luz cobria de uma
brancura sedosa e doce.
O aroma das plantas
avivou-lhe também a sensação dos seus triunfos de outrora.
Aquela essência divina
nascia da fertilidade das suas terras, trabalhadas por homens pagos por ele.
A criadagem! Como seus
criados, menos feliz do que eles, precisava também agora do salário de um
patrão, com que matasse a fome à mulher e aos filhos...
- Como Job! Repetiu ele
furioso, arrancando as barbas e unhando as faces. Não lhe bastava o
arrependimento, a dor moral, queria o castigo físico, a maceração da carne,
para completa punição de sua inépcia.
(...) Ele fugiu para
dentro; tinha tomado a sua resolução.
Cada homem é criado para
um fim. O dele tinha sido o de ganhar dinheiro; ganhara-o, cumprira o seu
destino. Não podendo recomeçar, inutilizado para a ação, devia acabar de uma
vez. Toda a energia da sua vida se concentraria num movimento único e decisivo.
(...)
Pouco a pouco a casa
adormecia, até que se encheu toda do pesado silêncio do sono.
A uma hora Francisco
Teodoro levantou-se muito pálido, persignou-se e rezou, ali mesmo, entre o
lampejar das molduras e o ar atrevido do cavalheiro de bronze. Finda a oração,
caminhou resolutamente para a sua secretária (...)
Francisco Teodoro tirou da
gaveta o seu revólver, olhou-o um instante e enconstava-o no ouvido quando a
mulher apareceu na porta, muda de terror, estendendo-lhes as mãos. Ele cerrou
logo os olhos à tentação da vida e apressou o tiro.
E toda a casa acordou aos
gritos de Camila que, com os braços no ar, clamava por socorro.”
Sobre a obra é possível afirmar
Alternativas
(A) A crítica que a autora
faz à República recém-instaurada se dirige não apenas às possíveis
consequências da especulação financeira, mas também à normatização imposta pela
moral burguesa.
(B) Expoente da escola
simbolista, a obra traz em seu enredo personagens contraditórias e
psicologicamente densas que representam as instituições republicanas.
(C) O trecho apresenta os
dilemas e pensamentos de Francisco Teodoro ao lidar com a sua falência e
dificuldade de assumir a culpa pela pobreza a que relegaria a sua família.
(D) O livro de Julia Lopes
de Almeida é ambientado nos primeiros anos da República e destaca a crise
econômica pela qual passava o país, conhecida como encilhamento.
QUESTÃO 4
Boa Vista mantém recorde
da maior paçoca do mundo

Notícia de jornal
“O recorde da Maior Paçoca do Mundo continua
em Boa Vista, agora são 775 quilos da iguaria, 275 a mais que no ano passado. A
pesagem ocorreu na penúltima noite de arraial, ao vivo em pleno Boa Vista
Junina, na frente de milhares de espectadores que puderam saborear o prato
típico de Roraima. A porção gigante serviu cerca de 25 mil pessoas.
Foram sete pesagens em uma
balança gigante [...]. Na quinta pesagem o recorde de 500 quilos do ano passado
já havia sido quebrado. A Maior Paçoca do Mundo foi feita em três dias e levou
na receita 500 kg de carne de sol, 350 kg de farinha, 150 kg de cebola e 60
litros de óleo. A produção ficou a cargo de 15 pessoas sob o comando de dois
paçoqueiros tradicionais de Roraima: Raimundo Costa e João Carlos Souto Maior.
‘Trabalhar com alimento é
gratificante, no nosso caso é uma rotina, mas com essa quantidade de
matéria-prima foi um grande desafio. Graças a Deus deu tudo certo’, contou
João. ‘Em alguns momentos a gente ficou um pouco apreensivo, mas foi
gratificante no final porque a gente superou as expectativas’, completou
Raimundo.
Segundo o Guinness World
Records, o desafio não é realizado em nenhum outro lugar do mundo. ‘Nós
esperávamos 700 quilos e para nossa surpresa essa quantidade foi superada. A
paçoca é feita com a farinha dos índios Taurepang, da comunidade do Bananal,
com ingredientes totalmente regionais, valorizando nossa cultura e
gastronomia’, disse a superintendente da Fundação de Educação, Turismo, Esporte
e Cultura (Fetec), Alda Amorim.
Moradores da Comunidade
Indígena do Bananal, no Município de Pacaraima, conferiram a quebra de recorde
da paçoca que leva na receita um dos principais produtos da região. O tuxaua
Tércio da Silva recebeu a primeira porção da maior paçoca do mundo em uma
simbólica panela de barro.
Alternativas
(A) Apesar da popularidade
da paçoca, o prato não pode ser considerado um patrimônio no Brasil pela
ausência de legislação relativa a bens culturais não materiais.
(B) A difusão do prato em
diferentes regiões do Brasil se relaciona com a história das bandeiras e de
expedições de tropeiros e garimpeiros pelo interior.
(C) A paçoca de carne seca
é um prato de origem indígena feito com ingredientes locais e que variam de
região para região.
(D) A produção da maior
paçoca de carne seca do mundo movimenta a economia local de Boa Vista e é um
índice cultural da cidade.
QUESTÃO 5 -
Tapirussú
Relato de viajante
“Direi desde logo (...)
que não existe no Brasil nenhum quadrúpede em tudo e por tudo semelhante aos
nossos. (...) O primeiro e mais comum é o tapirussú de pelo avermelhado e assaz
comprido, do tamanho mais ou menos de uma vaca, mas sem chifres, com pescoço
mais curto, orelhas mais longas e pendentes, pernas mais finas e pé inteiriço
com forma de casco de asno. Pode-se dizer que, participando de um e outro
animal, é semivaca e semiasno. Difere entretanto de ambos pela cauda, que é
muito curta (há aqui na América inúmeras alimárias sem cauda), pelos dentes que
são cortantes e aguçados; não é entretanto animal perigoso, pois só se defendem
fugindo”.
TEXTO 2
Tatu
Relato de viajante
“O tatu da terra do
Brasil, tal qual os nossos ouriços, não pode correr tão rapidamente quanto os
outros; por isso arrasta-se pelas moitas; em compensação está bem armado,
coberto de escamas fortes e duras, capazes de resistirem a um golpe de espada.
Com essa carapaça, fazem os selvagens cestinhos chamados caramento; encurvada
parece manopla de armadura. A carne do tatu é branca e muito saborosa. (...)”
Alternativas
(A) As descrições da
natureza estão mediadas por valores culturais e pelas percepções do autor.
(B) Apesar de detalhadas e
precisas, as descrições revelam o despreparo do autor, que não consegue
entender uma realidade diferente daquela com a qual está habituado.
(C) As descrições indicam certo
fascínio pelo "exotismo" da fauna brasileira, o que fica evidente por
sua riqueza de detalhes.
(D) O autor compara os
animais brasileiros àqueles conhecidos pelos europeus, um exercício que
contemporaneamente chamamos de produção de alteridade.
QUESTÃO 6
Mapa histórico da fronteira Brasil - Venezuela

A leitura do mapa indica
que:
Alternativas
(A) Brasil e Venezuela
buscaram incorporar vastas partes do território da Guiana, sendo que a
fronteira dessa região foi estabelecida no Império.
(B) As fronteiras são uma
convenção e sua demarcação é fruto de um processo histórico de tensões e
negociações ao longo do tempo.
(C) No local
confrontavam-se interesses por minérios e pelo acesso a importantes bacias
hidrográficas, como a do rio Essequibo.
(D) O processo de
demarcação das fronteiras entre os três países levou em conta os interesses dos
povos nativos ali existentes.
QUESTÃO 7
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Lajedo de Soledade - RN |
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Lajedo de Soledade - rochas |
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Lajedo de Soledade - Pinturas |
Alternativas
(A) Retratam pinturas
rupestres no Rio Grande do Norte, consideradas mais rudimentares em comparação
a outras registradas no Piauí.
(B) Apresentam o conjunto
de sítios arqueológicos brasileiros que auxiliam na construção do conhecimento
sobre o processo de ocupação e povoamento do continente.
(C) Mostram parte de um
sítio arqueológico, com vestígios pré-históricos da presença humana, onde estão
gravadas pinturas rupestres com idades entre 3 mil e 10 mil anos.
(D) Retratam o sítio
arqueológico Lajedo de Soledade, de formação rochosa, localizado na cidade de
Apodi no Rio Grande do Norte.
QUESTÃO 8-
Cobogó

Dicionário
"cobogó: (substantivo
masculino arq, constr; B) - princ. tijolo perfurado ou elemento vazado, feito
de cimento utilizado na construção de paredes ou fachadas perfuradas, com a
função de quebra-sol ou para separar o interior do exterior, sem prejuízo da
luz natural e da ventilação; combogó etim. segundo Aurélio, iniciais dos
sobrenomes dos engenheiros Coimbra, Boeckmann e Góis."
Alternativas
(A) O cobogó foi criado e
patenteado em Pernambuco, em 1929, e tornou-se uma marca importante também no
trabalho de grandes referências da arquitetura moderna brasileira, como Lucio
Costa e Oscar Niemeyer.
(B) O dicionário ao
remeter ao fato de o termo ter sido criado a partir da primeira sílaba do
sobrenome de seus inventores: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann
e Antônio de Góis, indica que o termo cobogó é um brasileirismo.
(C) Herança da influência
árabe trazida pela colonização portuguesa, o cobogó é um importante aliado em
climas quentes e úmidos, já que sua composição permite a circulação de ventos e
diminuição da incidência da luz solar.
(D) Dicionários revelam as
transformações de um idioma, registrando alterações de grafias e a ampliação e
redução de significados de palavras em diferentes períodos de tempo, o que os
torna fontes inviáveis para a pesquisa do historiador.
QUESTÃO 9
O Pharol: Diário da Tarde - 13/06/1887

Alternativas
(A) Destaca os benefícios
que a energia elétrica pode trazer, como a diminuição de incêndios, a aplicação
em sistemas de transporte, a redução de custos na iluminação doméstica e o
fornecimento de força para fábricas.
(B) Defende a importância
de implantar a eletricidade no Brasil a partir da apresentação de como essa
forma de energia vinha sendo empregada mundialmente, em países como Estados
Unidos, Rússia e França.
(C) Propõe a substituição
da iluminação a gás pela iluminação elétrica, uma vez que visava a utilização
do querosene como matéria prima para termoelétricas, tornando o processo
sustentável e com preço reduzido.
(D) Traz um discurso de
defesa da implantação da eletricidade vinculado à noção de modernização,
apresentada como indiscutivelmente benéfica e necessária.
QUESTÃO 10
Leia trechos do artigo da
antropóloga e professora da Universidade Federal de São Carlos (SP) Clarice
Cohn:
Uma década de presença
indígena na UFSCar
Texto acadêmico
“A Universidade Federal de
São Carlos completa, este ano, dez anos de sua experiência de Ações
Afirmativas. Em um processo que tem início há mais de década, estes anos de
formulação do Programa de Ações Afirmativas que culminam em sua instituição em
2007 não foram marcados por consensos, ao contrário. A intenção da
universidade, dinamizada pela então reitoria, era a de inverter um quadro em
que visivelmente se colocava uma elitização crescente do alunato, propondo
medidas para que as diversidades pudessem também contribuir na universidade e
garantir o ingresso de uma série de potenciais candidatos que não a estavam
acessando tendo em vista o modo de ingresso praticado à época, um vestibular
único ofertado pela VUNESP em provas escritas. (...)
Para além disso,
comprovou-se que ingressantes por reservas de vagas não têm – muito pelo
contrário – rendimento inferior aos demais. (...)
Sendo (...) um por sala,
um por cada ano de curso, estes estudantes se perceberam logo em uma situação
de extrema visibilidade, o que por diversas vezes significou ser alvo de
discriminação. Certamente, a universidade não estava preparada para recebê-los
– estamos falando de uma universidade no interior paulista, em uma região que,
embora vizinha de diversos povos indígenas, tinha esquecido, ou feito questão
de esquecer, a presença indígena no Brasil contemporâneo. Os primeiros docentes
que se viram com estudantes indígenas nas suas salas de aula ficaram atônitos:
como tratá-los, como ensiná-los?
A primeira coisa que se
pode dizer dessa experiência é que a universidade, como um todo, teve que se
ver não só com a presença indígena no Brasil, como com sua diversidade. Em
salas de aulas (...) estavam presentes indígenas do Nordeste, do Centro-Oeste,
do Amazonas; indígenas que tinham o português como segunda língua e indígenas
que eram monolíngues em português; homens e mulheres; mais jovens ou mais
velhos, com famílias constituídas ou constituindo famílias (...); católicos,
evangélicos, xamãs ou sem religião professa; nas ciências humanas, exatas e de
saúde.
Estes primeiros estudantes
indígenas não demoraram a dar uma resposta e a se manifestar: o primeiro evento
comemorativo do Abril Indígena foi realizado em 2008. Ocupando um grande
auditório, o Bento Prado, os estudantes organizaram mesas de debates e dançaram
o Bate-Pau terena. Nas mesas, a acusação do racismo institucional: em um
depoimento, Tauã Terena que cursava Engenharia de Produção, conta que seus
colegas, em uma primeira apresentação de power-point por professor, o
alertaram: 'ô Indião, as luzes vão se apagar, vai aparecer umas imagens aí na
parede, mas não é para se assustar não'. Ele apontava duas coisas: o apelido de
Indião, mas principalmente a ideia de que seu pensamento mágico não ia dar
conta da tecnologia e que ele, afinal, estava lá, como todos os demais colegas,
porque algumas dominava e outras esperava vir a dominar. (...)
As IES [Instituições de
Ensino Superior] terão, certamente, que se instrumentalizar melhor para lidar
com estas experiências – mas quero ressaltar aqui que, como primeiro ponto, se
deve abandonar uma ideia prévia da vulnerabilidade indígena, marcada, me
parece, por uma imagem de primitivismo, por uma assunção da quase
impossibilidade de 'adaptação' ao meio urbano (de onde, diga-se de passagem,
muitos vieram) e universitário, de modo a balancear adequadamente as
vulnerabilidades de cada caso com uma responsabilidade de atenção qualificada e
culturalmente respeitosa. (...)
Deste modo, deve-se buscar
um equilíbrio entre ter as culturas indígenas valorizadas pela universidade e
seus conhecimentos reconhecidos, o que é uma das demandas dos estudantes
indígenas, mas também reconhecer que parte importante deste esforço deles em
estar na universidade é acessar conhecimentos que não acessariam de outro modo
(...). Este duplo reconhecimento é, me parece, um desafio da universidade, e
uma batalha constante dos estudantes. (...)
Há, no entanto, outra
questão de difícil abordagem para a universidade, e que mais amplamente, diz
respeito às condições, inclusive corpóreas, de aprendizagem. Que os
conhecimentos indígenas são incorporados, e que tratamentos de corpos são parte
importante dessa pedagogia, já sabemos (...) – o que não sabemos bem é o que
acontece com esses corpos, e como eles aprendem, em um cotidiano universitário.
Em primeiro lugar, a pedagogia que se pratica na universidade está pautada pela
ex-corporação – salas de aulas ou laboratórios fechados, com iluminação
artificial, concentração em poucos pontos, a fala docente, ou dos colegas, o
power-point, o computador, o vídeo – e uma ênfase em deixar os sentidos, a não
ser pelo estímulo mental, de fora. Tudo é feito para anular os sentidos que não
aqueles estimulados no momento, e só para aquele fim – uma experiência nada
afeita a uma grande parte das aprendizagens indígenas. (...) Esses desafios
passam por corpos, por modos de aprender, por fontes de conhecimento, por
relações, por alimentação, por desenvolvimentos de capacidades visuais, e uma
série de coisas que são, por princípio, excluídas da universidade. (...)
De todos estes
estereótipos, porém, o que revela com maior força a dificuldade de uma
instituição universitária na formação de estudantes indígenas, e que, confesso,
me surpreendeu quando com ele me defrontei, é a ideia de que a cultura é um
fator impeditivo de aprendizado. Embora às vezes pronunciado em eventos
públicos, ouvidos em intervenções em seminários, e sempre, como aliás é
frequente em formulações discriminatórias, apresentado como preocupação ou boas
intenções, esta assunção não é publicizada em documentos e, na maior parte das
vezes, ganha a forma de conversas de corredor. Docentes universitários,
entendendo-se bem formados, estão prontos a concordar que origens étnicas ou
raciais não são impeditivas de aprendizado, e que todos aprendemos igualmente,
ou temos as mesmas capacidades – ao invés disso, voltam-se a diferenças
culturais para excluir indígenas da possibilidade de sucesso em sua formação
universitária. Assim, ouve-se que indígenas não têm capacidade de abstração, e
não seriam, assim, capazes de aprender matemática, ou suas elaborações como a
temida (por todos os estudantes) disciplina de Cálculo. Ou mesmo, remete-se a
'costumes' uma impossibilidade de estar e aprender em sala de aula, como, por
exemplo, quando estudantes indígenas evitam cruzar o olhar com docentes, não se
dando o trabalho de imaginar que isso, em si, não é impeditivo de aprendizagem,
mas eventualmente um sinal de respeito e um modo praticado de aprendizagem.
(...)
Se algo se aprendeu nesta
experiência na UFSCar nesta década é o tamanho do desafio de produzir
conhecimentos compartilhados, e fazer, de fato, dialogar pedagogias e modos de
conhecer de modo a potencializar as propostas indígenas de incorporar novos
saberes e novas técnicas a seus conhecimentos. Evidentemente, universidades
ganham com as diversidades presentes em seus campi – mas não deveria ser este o
ponto e o objetivo de seus programas. O ponto é ampliar conhecimentos, modos de
conhecimentos e mundos cognoscíveis. E reconhecer que, para isso, o fazer
acadêmico tem que mudar, para não falar do cotidiano das práticas pedagógicas.
Para que isso aconteça, evidentemente, a universidade tem que se colocar em
xeque.”
Sobre o tema escolha uma
das alternativas:
Alternativas
(A) O primeiro vestibular
indígena em nível federal do Brasil aconteceu na UFSCar, em 2007, e foi um
princípio para uma série de políticas voltadas à inclusão e à diversidade no
campus em diferentes níveis – pesquisa, ensino e extensão.
(B) Em muitos casos,
práticas educacionais e aspectos relacionados à cosmovisão indígena são
desconsiderados no ambiente universitário, o que implica a impossibilidade da
eleição de determinadas carreiras e cursos por esses alunos.
(C) O balanço da autora é
marcado pela ênfase na atuação dos alunos e comunidades indígenas, que possuem
diferentes demandas, como construtores de um novo modelo de universidade que
consiga atendê-las.
(D) A presença de alunos
indígenas de diferentes etnias, idades e contextos no campus da universidade
questiona a persistente visão do indígena como uma figura estereotipada.
FASE 2
QUESTÃO 12-

Alternativas
(A) O quadrinho critica
por meio do humor uma perspectiva racista de materiais didáticos que, em sua
maioria, apresentam os brancos como os únicos sujeitos da história.
(B) O quadrinho traz o
diálogo de dois personagens: um usa chapéu de cangaceiro e o outro remete à
figura do saci-pererê.
(C) Apesar da
obrigatoriedade do ensino de História da África e cultura afro-brasileira,
muitos livros didáticos continuam a priorizar o registro da história europeia.
(D) O saci, figura
conhecida por suas traquinagens, mente para o personagem Xaxado sobre a
realidade do livro didático.
QUESTÃO 13
"A Semana”, 16 de
outubro de 1892 (Machado de Assis)
Literatura
"Não tendo assistido
a inauguração dos bonds elétricos, deixei de falar neles. Nem sequer entrei em
algum, mais tarde, para receber as impressões da nova tração e contá-las. Daí o
meu silêncio da outra semana. Anteontem, porém, indo pela Praia da Lapa, em um
bond comum, encontrei um dos elétricos, que descia. Era o primeiro que estes
meus olhos viam andar.
[...]
Em seguida, admirei a
marcha serena do bond, deslizando como os barcos dos poetas, ao sopro da brisa
invisível e amiga. Mas, como íamos em sentido contrário, não tardou que nos
perdêssemos de vista, dobrando ele para o Largo da Lapa e Rua do Passeio, e
entrando eu na Rua do Catete. Nem por isso o perdi de memória. A gente do meu
bond ia saindo aqui e ali, outra gente entrava adiante e eu pensava no bond
elétrico. Assim fomos seguindo; até que, perto do fim da linha e já noite,
éramos só três pessoas, o condutor, o cocheiro e eu. Os dois cochilavam, eu
pensava.
De repente ouvi vozes
estranhas, pareceu-me que eram os burros que conversavam, inclinei-me (ia no
banco da frente); eram eles mesmos. Como eu conheço um pouco a língua dos
Houyhnhnms, pelo que dela conta o famoso Gulliver, não me foi difícil apanhar o
diálogo. Bem sei que cavalo não é burro; mas reconheci que a língua era a
mesma. O burro fala menos, decerto; é talvez o trapista daquela grande divisão
animal, mas fala. Fiquei inclinado e escutei:
— Tens e não tens razão, respondia o da
direita ao da esquerda.
O da esquerda:
— Desde que a tração
elétrica se estenda a todos os bonds, estamos livres, parece claro.
— Claro parece; mas entre
parecer e ser, a diferença é grande. Tu não conheces a história da nossa
espécie, colega; ignoras a vida dos burros desde o começo do mundo. Tu nem
refletes que, tendo o salvador dos homens nascido entre nós, honrando a nossa
humildade com a sua, nem no dia de Natal escapamos da pancadaria cristã. Quem
nos poupa no dia, vinga-se no dia seguinte.
— Que tem isso com a
liberdade?
— Vejo, redargüiu
melancolicamente o burro da direita, vejo que há muito de homem nessa cabeça.
— Como assim? bradou o
burro da esquerda estacando o passo.
O cocheiro, entre dois
cochilos, juntou as rédeas e golpeou a parelha.
— Sentiste o golpe?
perguntou o animal da direita. Fica sabendo que, quando os bonds entraram nesta
cidade, vieram com a regra de se não empregar chicote. Espanto universal dos
cocheiros: onde é que se viu burro andar sem chicote? Todos os burros desse tempo
entoaram cânticos de alegria e abençoaram a idéia dos trilhos, sobre os quais
os carros deslizariam naturalmente. Não conheciam o homem.
—Sim, o homem imaginou um
chicote, juntando as duas pontas das rédeas. Sei também que, em certos casos,
usa um galho de árvore ou uma vara de marmeleiro.
— Justamente. Aqui acho
razão ao homem. Burro magro não tem força; mas, levando pancada, puxa. Sabes o
que a diretoria mandou dizer ao antigo gerente Shannon? Mandou isto: 'Engorde
os burros, dê-lhes de comer, muito capim, muito feno, traga-os fartos, para que
eles se afeiçoem ao serviço; oportunamente mudaremos de política, all right!'
— Disso não me queixo eu.
Sou de poucos comeres; e quando menos trabalho, quando estou repleto. Mas que
tem capim com a nossa liberdade, depois do bond elétrico?
— O bond elétrico apenas
nos fará mudar de senhor.
— De que modo?
— Nós somos bens da
companhia. Quando tudo andar por arames, não somos já precisos, vendem-nos.
Passamos naturalmente às carroças.
— Pela burra de Balaão!
exclamou o burro da esquerda. Nenhuma aposentadoria? nenhum prêmio? nenhum
sinal de gratificação? Oh! mas onde está a justiça deste mundo?
— Passaremos às carroças —
continuou o outro pacificamente — onde a nossa vida será um pouco melhor; não
que nos falte pancada, mas o dono de um só burro sabe mais o que ele lhe
custou. Um dia, a velhice, a lazeira, qualquer coisa que nos torne incapaz,
restituir-nos-á a liberdade...
— Enfim!
— Ficaremos soltos, na
rua, por pouco tempo, arrancando alguma erva que aí deixem crescer para recreio
da vista. Mas que valem duas dentadas de erva, que nem sempre é viçosa?
Enfraqueceremos; a idade ou a lazeira ir-nos-á matando, até que, para usar esta
metáfora humana, — esticaremos a canela. Então teremos a liberdade de
apodrecer. Ao fim de três dias, a vizinhança começa a notar que o burro cheira
mal; conversação e queixumes. No quarto dia, um vizinho, mais atrevido, corre
aos jornais, conta o fato e pede uma reclamação. No quinto dia sai a reclamação
impressa. No sexto dia, aparece um agente, verifica a exatidão da notícia; no
sétimo, chega uma carroça, puxada por outro burro, e leva o cadáver.
Seguiu-se uma pausa.
— Tu és lúgubre, disse o burro da esquerda.
Não conheces a língua da esperança.
— Pode ser, meu colega;
mas a esperança é própria das espécies fracas, como o homem e o gafanhoto; o
burro distingue-se pela fortaleza sem par. A nossa raça é essencialmente
filosófica. Ao homem que anda sobre dois pés, e provavelmente à águia, que voa
alto, cabe a ciência da astronomia. Nós nunca seremos astrônomos. Mas a
filosofia é nossa. Todas as tentativas humanas a este respeito são perfeitas
quimeras. Cada século...
O freio cortou a frase ao
burro, porque o cocheiro encurtou as rédeas, e travou o carro. Tínhamos chegado
ao ponto terminal. Desci e fui mirar os dois interlocutores. Não podia crer que
fossem eles mesmos. Entretanto, o cocheiro e o condutor cuidaram de desatrelar
a parelha para levá-la ao outro lado do carro; aproveitei a ocasião e murmurei
baixinho, entre os dois burros:
— Houyhnhnms!
Foi um choque elétrico.
Ambos deram um estremeção, levantaram as patas e perguntaram-me cheios de
entusiasmo:
— Que homem és tu, que
sabes a nossa língua?
Mas o cocheiro, dando-lhes
de rijo na lambada, bradou para mim, que lhe não espantasse os animais. Parece
que a lambada devera ser em mim, se era eu que espantava os animais; mas como
dizia o burro da esquerda, ainda agora: — Onde está a justiça deste
mundo?"
Alternativas
(A) No diálogo entre os
burros, a citada “liberdade de apodrecer” aparece como a única recompensa que
os animais terão após anos de exploração.
(B) A crônica de Machado
de Assis não contém aspectos políticos, devendo ser lida e analisada em seu
conteúdo literário.
(C) O diálogo entre os
burros pode ser entendido como uma imagem da relação ambígua entre as
expectativas e as frustrações que a abolição de 1888 causou em grupos
abolicionistas e em escravizados.
(D) A crônica, do final do
século XIX, fala sobre a chegada de bondes elétricos na cidade do Rio de
Janeiro, que substituíram os bondes de tração animal.
QUESTÃO 14
Jornal da República, 27 de
agosto de 1979
Jornal
"As vítimas da
anistia
Esta semana trará a
anistia. Depois de longa expectativa e acidentada votação. Deveria ela
constituir o primeiro passo efetivo e real da pacificação nacional,
cicatrizando feridas abertas no curso de quinze anos de autocracia. Em lugar
disso, será apenas o prólogo da reformulação partidária, tais as deformações
que lhe desfiguram a fisionomia.
Uma e outra, o prólogo e a
sequência, sofrerão de igual inspiração imperfeita: destinam-se a, do alto e de
cima, tutelar a sociedade civil, sem atender às suas reivindicações. Enquanto a
anistia, desviando-se da tradição brasileira, deixou ao desabrigo de suas
normas uma categoria de dissidentes, alcunhados de terroristas, a reforma
partidária não incorporará as forças e os grupos autônomos do país. (...).
Expedientes dessa ordem,
particularistas e excludentes, tem o poder de, em pouco tempo, agravar o
problema que se queria resolver. Uma larga faixa do povo brasileiro não terá
voz nem expressão no quadro partidário a ser implantado. (...)
Se a anistia, em lugar de
um grande gesto, foi apenas uma manobra política, deixou consequências que
devem ser ressaltadas. Daqui por diante, os anistiados, os que reingressarem no
país e os que se integrarem na vida política estarão confrontados à crítica, ao
exame e à discussão. (...) Serão políticos como os outros, com a
responsabilidade de prestar contas de seus atos e de suas palavras. (...)
Há, por obra da lei da
anistia, além das vítimas do regime, as vítimas da anistia. Sobre elas desce a
auréola que consagra os mártires. Não se queira, entretanto, que essa legião se
transforme em todas as camadas do povo brasileiro, constrangido a votar em
partidos que nada significam, senão o reflexo da vontade do poder."
Alternativas
(A) Inviabilizou a
criminalização dos agentes da ditadura.
(B) Antecedeu a
implantação do pluripartidarismo.
(C) Foi acompanhada de
intenso apoio popular.
(D) Baniu da vida política
seus líderes anteriores.
QUESTÃO 15
Cortiço do Brás - fotografia - Cortiço no Brás - SP
Peter Scheier

Com base na fotografia e
em seus conhecimentos, escolha uma alternativa:
Alternativas
(A) A foto reúne um grupo
de 21 pessoas, em sua maioria crianças de origem humilde, em um cortiço do
bairro do Brás, na cidade de São Paulo.
(B) Os risos dos
retratados, a forma orgulhosa como exibem alguns animais de estimação e a
proximidade física entre si propõem um olhar acolhedor do fotógrafo em relação
à pobreza urbana.
(C) O fotógrafo Scheier
viu-se impelido a registrar e denunciar os cortiços no Brasil, tão diversos das
boas condições de moradia da classe trabalhadora existentes em seu país de
origem.
(D) Os cortiços
paulistanos que abrigaram parte dos imigrantes europeus e seus descendentes
localizaram-se desde o início do século XX em bairros industriais como Brás,
Mooca, Bexiga e Bom Retiro.
QUESTÃO 16
Norma e Conflito
Laura de Mello e Souza. Norma e conflito: aspectos da
história de Minas no século XVIII. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1999, p. 19-20.
Texto acadêmico
"As Devassas mineiras
foram inicialmente efetuadas por deliberação do bispado do Rio de Janeiro
(1721-1748), passando para a jurisdição do bispado de Mariana a partir de sua
criação. No que toca ao aspecto formal, obedecem ao modelo fixado pelas
Constituições do Arcebispado da Bahia, onde estão determinadas, entre outras
coisas, as atribuições dos visitadores, a maneira de se publicar o Edital da
Visita e de se proceder ao interrogatório, arrolando-se também os delitos.
Segundo rezam as
Constituições, os visitadores deveriam sempre ser eclesiásticos, “sacerdotes
virtuosos, prudentes e zelosos da honra de Deus e salvação das almas”, podendo
ser ou não letrados. Dentre as matérias a zelar, ocupam o primeiro plano as
questões referentes à adequação do culto e observância da religião; entretanto,
na prática, é sobre o comportamento cotidiano da população no seu aspecto mais
geral – e não no restrito apenas às questões religiosas – que incide o olhar
vigilante da Igreja: as testemunhas que comparecem à Mesa da denúncia falam
muito mais da vida amorosa, da sexualidade, dos costumes de seus semelhantes,
do que da sua regularidade no comparecimento às missas e na obediência dos
jejuns."
A partir do documento e
dos debates que ele suscita, escolha uma alternativa:
Alternativas
(A) A documentação de
denúncias e processos revela que a sociedade mineradora, por ser iletrada, não
entrava em conflito com dogmas católicos.
(B) A administração e
execução das Devassas ocorriam nos principais centros coloniais, indicando um
esforço de controle social.
(C) A sociedade e a
cultura do século XVIII podem ser estudadas pelos historiadores a partir dos
registros produzidos pelas Devassas.
(D) Os preceitos
religiosos se constituíam como normas a serem seguidas pelos cristãos, dentro e
fora das igrejas.
QUESTÃO 17
O jornal Cabichuí foi
publicado no Paraguai entre 1867 e 1868, para acompanhar a situação política
enfrentada pelo país e animar as tropas em guerra. Veja abaixo três páginas
desse jornal em seu primeiro ano de circulação.
jornal Cabichuí , 16 de maio de 1867

jornal Cabichuí , 10 de julho de 1867

jornal Cabichuí, 16 de dezembro de 1867

Cabichuí, 10 de julho de
1867 - transcrição
Jornal
Leia um trecho de texto
publicado no jornal Cabichuí em 10 de julho de 1867 (tradução e transcrição de
parte do documento 2):
“A Guerra da Tríplice
Aliança Contra o Paraguai
O mundo não havia
presenciado, nesses tempos tão avançados em termos de civilização, um escândalo
mais cínico contra o direito das gentes do que esse trazido pela Tríplice
Aliança com seu insolente atentado contra a independência do Paraguai. (...) Se
o Paraguai não tivesse resistido com heroísmo ao ímpeto dessas hordas
conquistadoras (...) [elas já] teriam consumado suas ações sobre a mais rica,
pacífica e laboriosa dentre as repúblicas da América. A desaparição de uma
república pelo poder absorvente da coroa de Bragança seria apenas o primeiro
passo daquilo que sua força e diplomacia preparam-se para dirigir (...)
primeiro contra seus aliados e depois contra o resto da América. O Paraguai é
um reduto avançado da América da qual o inimigo quer se apoderar, um ponto
estratégico necessário (...) A América não deveria demonstrar essa glacial
indiferença perante o que está a ocorrer às margens dos [rios] Paraná e
Paraguai (...)” [Cabichuí, 10 de julho de 1867]
Com base nos documentos
apresentados e no contexto em que foram produzidos, escolha uma alternativa:
Alternativas
(A) O jornal Cabichuí era
uma publicação do exército paraguaio e sua ilustração de capa compara as tropas
desse país a um perigoso enxame de vespas que ataca um homem animalizado.
(B) O Cabichuí descreve a
Guerra do Paraguai como uma investida antirrepublicana da Tríplice Aliança;
parte da historiografia brasileira sobre o conflito expressou visão semelhante.
(C) Os documentos 2, 3 e 4
reforçam um mesmo argumento: o de que a pátria paraguaia estava defendendo todo
o restante da América do Sul que, no entanto, não vinha em seu socorro.
(D) A Guerra do Paraguai
forçou aquele país a criar sua imprensa como forma de comunicação entre as
tropas e de informar a população que, no entanto, era majoritariamente
analfabeta.
QUESTÃO 18
Quilombo: vidas, problemas e aspirações do negro, julho
de 1949, p. 1
Jornal

Quilombo: vidas, problemas e aspirações do negro, julho
de 1949, p. 2-3
Jornal

Observe o documento e
escolha uma alternativa;
Alternativas
(A) Abdias do Nascimento e
Maria de Lourdes Vale Nascimento eram irmãos e, por serem os responsáveis pela
editoração, diagramação e administração do jornal, não escreviam colunas ou
editoriais.
(B) A ativista e atriz
Ruth de Souza, participante do Teatro Experimental do Negro (TEN), é retratada
na capa do jornal Quilombo, que em cada edição exaltava os talentos e a beleza
de uma mulher negra.
(C) Solano Trindade foi
poeta e entusiasta do folclore brasileiro e do teatro, tendo fundado com Maria
Margarida e Edison Carneiro o Teatro Popular Brasileiro, que tinha no elenco
empregadas domésticas, operários e estudantes.
(D) O jornal Quilombo é um
expoente da imprensa negra, conjunto de publicações diversas de grupos de
associativismo negro, que tem a questão racial como central nas experiências
cotidianas.
QUESTÃO 19
Camila, Camila
Letra de música
"Depois da última
noite de festa
Chorando e esperando
amanhecer, amanhecer
As coisas aconteciam com
alguma explicação
Com alguma explicação
Depois da última noite de
chuva
Chorando e esperando
amanhecer, amanhecer
Às vezes peço a ele que vá
embora
Que vá embora oh
Camila, Camila
Eu que tenho medo até de
suas mãos
Mas o ódio cega e você não
percebe
Mas o ódio cega
E eu que tenho medo até do
seu olhar
Mas o ódio cega e você não
percebe
Mas o ódio cega
A lembrança do silêncio
daquelas tardes
Daquelas tardes
A vergonha do espelho naquelas
marcas
Naquelas marcas
Havia algo de insano
naqueles olhos,
Olhos insanos
Os olhos que passavam o
dia a me vigiar, a me vigiar oh
Camila, Camila, Camila
Camila, Camila, Camila
E eu que tinha apenas 17
anos
Baixava a minha cabeça pra
tudo
Era assim que as coisas
aconteciam
Era assim que eu via tudo
acontecer
E eu que tinha apenas 17
anos
Baixava minha cabeça pra
tudo
Era assim que as coisas
aconteciam
Era assim que eu via tudo
acontecer
Camila, Camila, Camila
Camila, Camila,
Camila"
Sobre o tema que a canção
trata escolha uma das alternativas:
Alternativas
(A) O Fórum Brasileiro de
Segurança Pública indicou que no Brasil, em 2017, a maior parte dos 135
estupros e 12 assassinatos de mulheres por dia ocorreu na esfera doméstica e/ou
por familiares/conhecidos.
(B) Iniciativas como a Lei
Maria da Penha de 2006 e o estabelecimento do crime de feminicídio acabam por
reforçar a desigualdade jurídica entre homens e mulheres.
(C) A letra descreve, de
forma velada, o relacionamento abusivo e violento a que a personagem Camila
está submetida: medo das mãos, marcas no corpo, olhos insanos que a vigiam.
(D) A Constituição de 1988
estabeleceu a igualdade entre homens e mulheres na vida pública e privada,
inclusive na relação conjugal, o que eliminou o “crime de legítima defesa da
honra”.
QUESTÃO 20
Correio da
Manhã, 1 de outubro de 1937
Jornal

Sobre o tema e seus
desdobramentos é possível afirmar:
Alternativas
(A) A notícia traz um
texto baseado num documento forjado pelo então capitão Olímpio Mourão Filho -
chefe do serviço secreto da Ação Integralista Brasileira (AIB) - que circulou
nos quartéis antes de ser apresentado à população como um plano de revolução
comunista no país.
(B) Em 1964, o autor do
Plano Cohen, o então general Olímpio Mourão Filho, foi um dos articuladores que
deu início ao movimento das tropas militares que depuseram o presidente João
Goulart, mais uma vez sob a bandeira de uma luta contra o comunismo.
(C) A divulgação e
repercussão do Plano Cohen vão ao encontro da proposta varguista de uso das
mídias como veículo de construção de uma opinião pública favorável a seu
governo, colocando seus opositores como inimigos também da Nação.
(D) Denunciado em 1945
como autor do documento, o então general Olímpio Mourão Filho esclareceu que o
documento fora produzido para uso exclusivo da AIB mas, mesmo assim, foi punido
e passou a exercer o cargo de gabinete de presidente da Comissão Técnica de
Rádio.
QUESTÃO 21
História pra ninar gente
grande
Letra de samba enredo
"Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história
não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se
encontra
Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro
apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que
descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero o país que não tá
no retrato
Brasil, o teu nome é
Dandara
E a tua cara é de Cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no
mar de Aracati
Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos
de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias,
Mahins, Marielles, malês
Mangueira tira a poeira dos porões
Ô abre alas pros teus
heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um
país de Lecis, Jamelões
São verde-e-rosa as
multidões"
Sobre o documento, é
correto afirmar que:
Alternativas
(A) O samba-enredo aborda
o processo de ocultamento da agência das minorias nas narrativas dos eventos
históricos.
(B) Os compositores evocam
a invisibilização e silenciamento das mulheres negras na sociedade brasileira.
(C) O “herói emoldurado” é
referência somente àqueles que lutaram nas batalhas históricas do Brasil.
(D) Trata-se de um
samba-enredo que tem como tema central as lutas que não aparecem na chamada
“história oficial”.
FASE 3
QUESTÃO 23
Diário de um detento
Letra de música
“São Paulo, dia primeiro
outubro
De mil novecentos e
noventa e dois
Oito horas da manhã
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do
vigia
Você não sabe como é
caminhar
Com a cabeça na mira de
uma HK
Metralhadora alemã ou de
Israel
Estraçalha ladrão que nem
papel
Na muralha, em pé, mais um
cidadão José
Servindo o Estado, um PM
bom
Passa fome, metido a
Charles Bronson
Ele sabe o que eu desejo
Sabe o que eu penso
O dia tá chuvoso, o clima
tá tenso
Vários tentaram fugir, eu
também quero
Mas de um a cem, a minha
chance é zero
Será que Deus ouviu minha
oração?
Será que o juiz aceitou a
apelação?
Mando um recado lá pro meu
irmão:
Se tiver usando droga, tá
ruim na minha mão
Ele ainda tá com aquela
mina
Pode crê, moleque é gente
fina
Tirei um dia a menos, ou
um dia a mais, sei lá
Tanto faz, os dias são
iguais
Acendo um cigarro e vejo o
dia passar
Mato o tempo pra ele não
me matar
Homem é homem, mulher é
mulher
Estuprador é diferente,
né?
Toma soco toda hora,
ajoelha e beija os pés
E sangra até morrer na rua
10
Cada detento, uma mãe, uma
crença
Cada crime, uma sentença
Cada sentença, um motivo,
uma história
De lágrima, sangue, vidas
e glórias
Abandono, miséria, ódio,
sofrimento
Desprezo, desilusão, ação
do tempo
Misture bem essa química
Pronto: eis um novo
detento
Lamentos no corredor, na
cela, no pátio
Ao redor do campo, em
todos os cantos
Mas eu conheço o sistema,
meu irmão
Aqui não tem santo
Ratatatá, preciso evitar
Que um safado faça minha
mãe chorar
Minha palavra de honra me
protege
Pra viver no país das
calças bege
Tic, tac, ainda é nove e
quarenta
O relógio da cadeia anda
em câmera lenta
(groove)
MANO BROWN
Ratatatá, mais um metrô
vai passar
Com gente de bem,
apressada, católica
Lendo jornal, satisfeita,
hipócrita
Com raiva por dentro, a
caminho do centro
Olhando pra cá, curiosos,
é lógico
Não, não é, não, não é o
zoológico
Minha vida não tem tanto
valor
Quanto seu celular, seu
computador
Hoje, tá difícil, não saiu
o sol
Hoje não tem visita, não
tem futebol
Alguns companheiros têm a
mente mais fraca
Não suportam o tédio,
arruma quiaca
Graças a Deus e à Virgem
Maria
Faltam só um ano, três
meses e uns dias
Tem uma cela lá em cima
fechada
Desde terça-feira ninguém
abre pra nada
Só o cheiro de morte e
Pinho Sol
Um preso se enforcou com o
lençol
Qual que foi? Quem sabe
não conta
Ia tirar mais uns seis de
ponta a ponta
Nada deixa um homem mais
doente
Que o abandono dos
parentes
Aí, moleque, me diz,
então: cê quer o quê?
A vaga tá lá esperando
você
Pega todos seus artigo
importado
Seu currículo no crime e
limpa o rabo
A vida bandida é sem
futuro
Sua cara fica branca desse
lado do muro
Já ouviu falar de Lúcifer?
Que veio do Inferno com
moral?
Um dia no Carandiru, não
ele é só mais um
Comendo rango azedo com
pneumonia
Aqui tem mano de Osasco,
do Jardim D'Abril
Parelheiros, Mogi, Jardim
Brasil
Bela Vista, Jardim Angela,
Heliópolis
Itapevi, Paraisópolis
Ladrão sangue bom tem
moral na quebrada
Mas pro Estado é só um
número, mais nada
Nove pavilhões, sete mil
homens
Que custam trezentos reais
por mês cada
Na última visita, o
neguinho veio aí
Trouxe umas fruta,
Marlboro, Free
Ligou que um pilantra lá
da área voltou
Com Kadett vermelho, placa
de Salvador
Pagando de gatão, ele
xinga, ele abusa
Com uma nove milímetro
embaixo da blusa
Aí neguinho, vem cá, e os
manos onde é que tá?
Lembra desse cururu que
tentou me matar?
ICE BLUE
Aquele puta ganso,
pilantra, corno manso
Ficava muito doido e
deixava a mina só
A mina era virgem e ainda
era menor
Agora faz chupeta em troca
de pó!
MANO BROWN
Esses papo me incomoda
Se eu tô na rua é foda
ICE BLUE
É, o mundo roda, ele pode
vir pra cá
MANO BROWN
Não, já, já meu processo
tá aí
Eu quero mudar, eu quero
sair
Se eu trombo esse fulano,
não tem pá, não tem pum
E eu vou ter que assinar
um cento e vinte e um
Amanheceu com sol, dois de
outubro
Tudo funcionando, limpeza,
jumbo
De madrugada eu senti um
calafrio
Não era do vento, não era
do frio
Acerto de conta tem quase
todo dia
Ia ter outro logo mais,
hã, eu sabia
Lealdade é o que todo
preso tenta
Conseguir a paz de forma
violenta
Se um salafrário sacanear
alguém
Leva ponto na cara igual
Frankenstein
Fumaça na janela, tem fogo
na cela
Fudeu, foi além, se pã,
tem refém
Na maioria se deixou
envolver
Por uns cinco ou seis que
não têm nada a perder
Dois ladrões considerados
passaram a discutir
Mas não imaginavam o que
estaria por vir
Traficantes, homicidas,
estelionatários
Uma maioria de moleque
primário
Era a brecha que o sistema
queria
Avise o IML, chegou o
grande dia
Depende do sim ou não de
um só homem
Que prefere ser neutro
pelo telefone
Ratatatá, caviar e
champanhe
Fleury foi almoçar, que se
foda a minha mãe
Cachorros assassinos, gás
lacrimogêneo
Quem mata mais ladrão
ganha medalha de prêmio
O ser humano é descartável
no Brasil
Como modess usado ou
bombril
Cadeia guarda o que o
sistema não quis
Esconde o que a novela não
diz
Ratatatá, sangue jorra
como água
Do ouvido, da boca e nariz
O Senhor é meu pastor,
perdoe o que seu filho fez
Morreu de bruços no Salmo
23
Sem padre, sem repórter
Sem arma, sem socorro
Vai pegar HIV na boca do
cachorro
Cadáveres no poço, no
pátio interno
Adolf Hitler sorri no
inferno
O Robocop do governo é
frio, não sente pena
Só ódio, e ri como a hiena
Ratatatá, Fleury e sua
gangue
Vão nadar numa piscina de
sangue
Mas quem vai acreditar no
meu depoimento?
Dia três de outubro,
diário de um detento"
CARANDIRU I ( FOTOGRAFIA)

“Relembre em imagens o Massacre do Carandiru”. O Globo,
08/04/2013. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/brasil/relembre-em-imagens-massacre-do-carandiru-8056011
CARANDIRU II (FOTOGRAFIA)

“Massacre do Caradiru”. Foto Cotidiano. Folha de São Paulo,
05/04/2013. Fotografia de: Niels Andreas, 5 out. 1992 – folhapress. Disponível
em:
https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/10446-massacre-do-carandiru#foto-55450
Sobre os documentos e o tema que
abordam, escolha a alternativa mais adequada
Alternativas
(A) Os documentos levam a
refletir sobre uma lógica de violência que justifica a brutalidade da ação
policial pela ideia de desumanização dos indivíduos considerados criminosos.
(B) As fotografias apresentam
cenas das vítimas, que somaram cerca 110 feridos e 111 mortos; segundo relatos,
muitos mortos foram encontrados com as mãos na cabeça ou algemados, o que pode
indicar que haviam se rendido.
(C) A repercussão internacional
do Massacre do Carandiru levou o TJSP a condenar e encarcerar, em veredictos
inéditos, o ex-governador Fleury, o comandante da operação, coronel Ubiratan, e
74 policiais militares.
(D) Em 1993, duas chacinas na
cidade do Rio de Janeiro trouxeram novamente o Massacre do Carandiru à memória
por sua semelhança no que se refere à violência policial em ações de extermínio
de grupos considerados “descartáveis”.
QUESTÃO 24
Observe as capas e contracapas de disco e escolha uma
alternativa.
Chico Buarque canta Calabar
Capa e Contracapa "Calabar" I
Capa de disco
CAPA

CONTRACAPA

CAPA E CONTRACAPA - CALABAR II
Chico Buarque, Chico Canta: Calabar - O elogio da traição,
1973.


CAPA E CONTRACAPA - CALABAR III


Alternativas
(A) As três capas e contracapas
são do LP Calabar, de 1973, sendo a primeira a original, a segunda feita
imediatamente após a censura e a terceira criada para a segunda edição do
disco, já com uma capa remodelada.
(B) As capas e contracapas
diferentes para um mesmo disco foram opção do compositor, que fez o mesmo em
seu LP Francisco, de 1987.
(C) Grande parte da trilha sonora
da peça teatral “Calabar: o elogio da traição” foi censurada, apresentada
apenas como instrumental no LP, e algumas das faixas tiveram palavras cortadas,
como “sífilis” em “Fado tropical”.
(D) Na peça, Chico Buarque e Ruy
Guerra dão voz a personagens comumente marginalizadas pela história, como
Bárbara, esposa de Calabar, e Ana de Amsterdã, que simbolizava as prostitutas
trazidas pelos holandeses.
S. John del Rey Mining Company
Fotografia

Legenda:
S. John del Rey Mining Company
Morro Velho Prov de Minas
BRAZIL
Origem
Augusto Riedel. Viagem de S.S.A.A. Reaes Duque de Saxe e seu
augusto irmão D. Luís Philippe ao interior do Brazil no anno 1868. Disponível
em: https://www.wdl.org/pt/item/2000/
O documento, uma fotografia,
retrata uma mina localizada em Minas Gerais. A partir dele e de sua pesquisa, é
possível afirmar que:
Alternativas
(A) Apresenta um panorama do
Morro Velho, localizado em Minas Gerais, e utiliza um homem, no primeiro plano,
para marcar as escalas do empreendimento da mineração e das construções
vizinhas.
(B) Ao longo do século XIX a
atividade mineradora no Brasil passou por um crescimento que envolveu a
instalação de empresas privadas estrangeiras, como a identificada na
fotografia.
(C) Os trabalhadores ingleses que
atuavam na região do Morro Velho contavam com estatuto próprio a despeito da
lei brasileira, o que provocou uma distorção na relação entre católicos e
protestantes.
(D) As estruturas registradas na
fotografia evidenciam o aspecto rudimentar da atividade mineradora refletida na
baixa produtividade e pouco interesse por parte do Estado brasileiro.
Leia os dois documentos:
O primeiro é um trecho de filme
com as reflexões da filósofa Hannah Arendt sobre o julgamento de Adolf
Eichmann: um criminoso nazista responsável pela deportação em massa de milhares
de judeus para campos de extermínio, capturado na Argentina em 1960, julgado e
condenado em Israel em 1961. O segundo deles contém as instruções para o
juramento de ingresso no Integralismo, um movimento que existiu no Brasil dos
anos 1930.
Hannah
Arendt


Tradução e Transcrição de trecho de filme
"Hannah
Arendt: Talvez, só por hoje, espero que me permitam fumar imediatamente. Quando
a New Yorker me enviou para cobrir o julgamento de Adolf Eichmann, eu imaginei
que o tribunal teria apenas um propósito: cumprir as exigências da justiça.
Minha tarefa não foi fácil porque o tribunal que julgava Eichmann via-se diante
de um crime que inexistia nos códigos penais. E o réu era diferente de todos
aqueles que antecederam o julgamento de Nuremberg. Mesmo assim, cabia ao
tribunal definir Eichmann como homem sendo julgado por seus atos. Não se
julgava um sistema. Não se julgava a História, nenhum 'ismo'. Nem mesmo o
'antissemitismo'. Mas somente a pessoa. O problema com um criminoso nazista
como Eichmann é que ele insistia em renunciar a qualquer traço pessoal. Como se
não tivesse sobrado ninguém para ser punido ou perdoado. Repetidas vezes ele
protestava, rebatendo as acusações da promotoria, dizendo que não tinha feito
nada por iniciativa própria. Que ele não tivera quaisquer intenções, boas ou
más. Que ele apenas obedeceu ordens. Esta desculpa típica dos nazistas torna
claro que o maior mal do mundo é o mal perpetrado por ninguém. Até mesmo os
males cometidos por homens sem qualquer motivo, sem convicção, sem razão
maligna ou intenções demoníacas. Mas seres humanos que se recusam a ser
pessoas. E é este fenômeno que eu chamei de 'a banalidade do mal'.
Homem
da plateia: Senhora Arendt, a senhora está evitando a parte mais importante da
controvérsia. Disse que menos judeus teriam morrido se seus líderes não
tivessem cooperado.
Hannah
Arendt: Essa questão surgiu durante o julgamento. Eu a relatei e tive que
esclarecer o papel desses líderes judeus que participaram diretamente nas
atividades de Eichmann.
Homem
na plateia: A Senhora culpa o povo judeu por sua própria destruição.
Hannah
Arendt: Eu nunca culpei o povo judeu! Resistência era impossível. Mas talvez
haja alguma coisa entre a resistência e a cooperação. E é só nesse sentido que
eu digo que talvez alguns dos líderes judeus poderiam ter agido de forma
diferente. É extremamente importante fazer-se estas perguntas. Porque o papel
dos líderes judeus fornece exemplo mais chocante do ponto a que chegou o
colapso moral causado pelos nazistas na respeitada sociedade europeia. E não só
na Alemanha, mas em quase todos os países. Não apenas dentre os que perseguiam,
mas também entre as vítimas.
Mulher
na plateia: A perseguição visava aos judeus. Por que descreve os crimes de
Eichmann como crimes contra a humanidade?
Hannah
Arendt: Porque os judeus são seres humanos. De saída, os nazistas o negavam
como tal. Um crime contra eles é, por definição, um crime contra a humanidade.
Como todos sabem, eu sou judia. E eu já fui acusada de não me aceitar como
judia, de defender os nazistas e desprezar meu próprio povo. Isso não é um
argumento. É um assassinato de caráter! Nada do que escrevi foi em defesa de
Eichmann. Tentei foi conciliar a chocante mediocridade desse homem com seus
atos abomináveis. Tentar entender não é o mesmo que perdoar. Minha
responsabilidade é entender. É a responsabilidade de qualquer um que ouse
escrever sobre essa questão. Desde Sócrates e Platão, que geralmente se referiam
ao pensar como o diálogo silencioso travado consigo mesmo. Ao recusar-se a ser
uma pessoa, Eichmann abdicou totalmente da característica que mais define o
homem como tal: a de ser capaz de pensar. Consequentemente, ele se tornou
incapaz de fazer julgamentos morais. Essa incapacidade de pensar permitiu que
muitos homens comuns cometessem atos cruéis em uma escala monumental jamais
vista. É verdade. Tratei dessas questões de forma filosófica. A manifestação do
ato de pensar não é o conhecimento, mas a habilidade de distinguir o bem do
mal, o belo do feio. E eu tenho esperança de que o pensar dê força às pessoas
para evitar catástrofes naqueles momentos raros, quando chega a hora da
verdade. Obrigada."
Sobre
este documento
Título
Hannah
Arendt
Tipo
de documento
Tradução
e Transcrição de trecho de filme
Origem
Título
original: Hannah Arendt
Data
de lançamento 5 de julho de 2013 (1h 53min)
Direção:
Margarethe von Trotta
Elenco:
Barbara Sukowa, Axel Milberg, Janet McTeer
Gêneros:
Biografia, Drama
Nacionalidades:
Alemanha, França
Produção:
Heimatfilm Gmbh
Roteiro:
Margarethe Von Trotta
Distribuição:
254
Idioma:
Alemão e Inglês
Disponivel
em: https://www.youtube.com/watch?v=LYGVAFKpvXM
Trecho
transcrito: 1:35:19 a 1:42:44.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=06jufTlnFbU
Créditos
Produção:
Heimatfilm Gmbh
Roteiro:
Margarethe Von Trotta
Argumento:
Hannah Arendt
Juramento
Panfleto
"Art.
146 – O ato do juramento, que terá lugar na sala das sessões, em frente ao
retrato do Chefe Nacional, e na presença de, pelo menos, dez Integralistas,
realiza-se da seguinte forma: o Chefe Provincial, Municipal ou Distrital, ou a
autoridade que o represente, mandará o novo Integralista erguer o braço direito
verticalmente e pronunciar as seguintes palavras: - 'Juro por Deus e pela minha
honra trabalhar pela Ação Integralista Brasileira, executando, sem discutir, as
ordens do Chefe Nacional e dos meus superiores' – A autoridade, então, dirá
–'Integralistas! Mais um brasileiro entrou para as fileiras dos
‘Camisas-Verdes'.' 'Em nome do Chefe Nacional eu o recebo e convido os
presentes a saudá-lo, segundo o nosso rito. (Elevando a voz): Ao nosso novo companheiro,
- Anauê! Os presentes responderão: - 'Anauê'.'
§
1º - O juramento acima só poderá ser prestado na sede em que se inscrever o
novo Integralista, salvo caso excepcional e com autorização da Chefia Nacional.
§
2º - Os Integralistas que ingressarem nas organizações atléticas ou esportivas,
ainda estão sujeitos ao juramento da S. N. E.
Art.
147 – Estão dispensados do Juramento Integralista os militares que ingressarem
no Integralismo (Res. nº 100, de 25-6-1935). O Chefe Nacional entende que a
nacionalidade estaria falida no dia em que um militar precisasse repetir um
juramento que já fez de servir à Pátria e o Integralismo é considerado pelo
Chefe como a única doutrina salvadora da Nação."
Sobre
este documento
Título
Juramento
Tipo
de documento
Panfleto
Origem
Panfleto
“Protocolos e Rituais da Ação Integralista Brasileira”. 1937. PP. 41.
Sobre
o tema e a partir dos documentos, escolha uma alternativa.
Alternativas
(A)
Assim como Adolf Eichmann, muitos integralistas foram julgados em virtude de
sua participação na milícia integralista.
(B)
Gestos e palavras de ordem, massificação, renúncia à liberdade e obediência
irrestrita ao líder político estão presentes em projetos fascistas.
(C)
Os dois documentos tratam de movimentos que, embora referentes a contextos
diferentes, podem ser caracterizados como totalitários.
(D)
Para Arendt, a banalidade do mal implica a renúncia voluntária à própria
liberdade, ao pensamento crítico e à capacidade de discernimento.
Conteúdo
adicional
Eichmann
em Jerusalém
Integralismo:
o fascismo brasileiro na década de 30
Hannah
Arendt [trecho]
Hannah
Arendt [completo]
QUESTÃO 27
OBSERVE OS DOCUMENTOS
A casa das minas - fotografia

QUESTÃO 27
OBSERVE OS DOCUMENTOS
A casa das minas - fotografia

Origem
(Autor desconhecido). Casa das Minas. Vodunsis com tobossis
após a última feitoria de gonjaís de 1914. Museu Afro-Digital, Universidade
Federal do Maranhão.
Terreiro
Casa das Minas
Documento
legal
"Ilmo
Sr. Presidente do IPHAN
Ilmos
Srs. Conselheiros
Foi
com muita honra que recebi do Sr. Presidente do IPHAN, Dr. Carlos Henrique
Heck, através da Professora Anna Maria Serpa Barroso, a tarefa de examinar e
opinar sobre este processo. Esta é a minha primeira missão como relator no
âmbito deste Conselho e sendo assim, foi grande minha apreensão ao ser
incumbido desta irrecusável e nobre tarefa.
É
portanto, com emoção que o faço, por se tratar da proposta de tombamento de uma
casa de cultura afro-maranhense, denominada Casa das Minas, ou Querebentam de
Zomadônu, localizada em São Luís, cidade onde me radiquei desde a década de 70
e onde me dedico desde então exclusivamente às atividades de um programa de
preservação do seu magnífico centro histórico. (...)
De
fato, a Casa das Minas, é considerada como a mais antiga Casa de religião
afro-brasileira do Maranhão, por haver sido fundada em meados do século XIX, no
mesmo momento da chegada de negros escravizados e originários do sul de Benin,
antigo Daomé, com a finalidade de cultuar as divindades da família real de
Abomey através da Mãe Maria Jesuína. Foi, por todos os especialistas que a
estudaram até hoje, classificada como a única no nosso país, que cultua
divindades originárias do antigo Reino do Daomé e que tem como principal
manifestação religiosa as divindades denominadas de Voduns, que são invocadas
através de cânticos e danças e cuja maioria são vinculados à família real do
Daomé (...)
Outro
aspecto peculiar desta casa é o fato de se constituir numa gerontocracia
feminina, onde o poder vai sendo transferido em cadeia sucessória, de forma
respeitosa e consensual de uma liderança para outra, segundo os dotes de
sabedoria, antiguidade no culto e equilíbrio demonstrados ao longo da
convivência entre elas.
Mas
o tombamento que é solicitado neste processo é o da Casa em si, a edificação
propriamente dita, como sede da instituição, e devemos conduzi-lo através de
procedimentos utilizados normalmente para a proteção de bens imóveis. Cabe
então analisar um tanto mais detidamente este aspecto da questão. Neste ponto
gostaria de emitir opinião favorável às ponderações contidas no parecer da
Procuradoria Jurídica integrante do presente processo, segundo o qual, o acervo
de bens móveis não deve ser incluído neste tombamento, em virtude da natureza
efêmera e facilmente perecível de numerosas das peças arroladas no inventário
fotográfico, que por sua natureza são impróprios e até incompatíveis com os
preceitos do tombamento, cuja conservação e preservação constituem a essência
deste ato.
A
Casa é ritual e hierarquicamente dividida e cada setor é habitado pelos
parentes dos principais Voduns. Assim temos as três casas principais Zomadônu,
Sepazin e Dadarrô e as Famílias de Quevioçô de Davice e do Dambirá, onde outros
voduns têm também um cômodo ou quarto, onde residem de fato os seus parentes.
Assim é que, se a varanda de dança ou “guma” tem piso de chão ou terra batida é
porque ali dançam os voduns. Ou seja, o piso é assim porque os voduns
determinam e o contato com a terra é um fundamento vital.
Em
última análise, o Querebentan de Zomadonu sobreviveu até os nossos dias porque
os rituais foram preservados, e os rituais foram preservados porque eles
possuem seu lócus de celebração que é a Casa. A Casa é o corpo, e como tal é
“orgânica” em seus materiais e formas. (...)
Conforme
vimos nos autos deste processo, transparece todo o tempo um esforço secular de
transmissão de conhecimentos originais de geração para geração. Também o corpo
da Casa vem sendo mantido com as conhecidas dificuldades pelas sucessivas Mães
que a governaram e que agora apelam para o reconhecimento nacional, porque
compreendem que o tombamento não é somente um ato jurídico e burocrático, mas
uma estratégia de agregar valor, de tornar mais respeitado, de distinguir, de
divulgar, de fortalecer argumentos de defesa, solicitações de ajuda e,
portanto, um caminho para consolidar as perspectivas de continuidade para o
futuro. (...)
Sendo
assim e corroborando a maior parte das recomendações e pareceres diversos exarados
nas várias instâncias que percorreram os autos deste processo, declaro-me
favorável ao tombamento do imóvel, nas condições sugeridas pela Procuradoria
Jurídica do IPHAN, ou seja, não incluindo no tombamento, os bens móveis.
Este
é o nosso parecer.
São
Luís do Maranhão, em 17 de agosto de 2001
Luiz
Phelipe de Carvalho Castro Andrès
Conselheiro
do Conselho Consultivo do IPHAN"
Sobre este documento
Título
Terreiro Casa das Minas
Tipo de documento
Documento legal
Glossário
Gerontocracia: Grupo social em que a liderança é exercida
por anciãos.
Origem
Processo nº 1464-T-00 - “Terreiro Casa das Minas, situado na
Rua de São Pantaleão 857, no Município de São Luís, Estado do Maranhão”
Créditos
IPHAN
A
partir dos documentos escolha uma alternativa:
Alternativas
(A)
As bonecas nas mãos das mulheres fazem referência às tobossis, entidades
infantis cultuadas na Casa das Minas, pertencentes à nobreza africana do antigo
reino do Daomé, atual Benin.
(B)
O grande uso de palavras originárias das línguas ewe-fon na Casa das Minas
chama atenção para a presença e persistência das heranças culturais africanas
nesse grupo social organizado no século XIX.
(C)
As bonecas, os tambores e as vestimentas, bens móveis de valor etnográfico
incontestável, foram arrolados no processo de tombamento promovido pelo IPHAN
como componentes do patrimônio imaterial da Casa das Minas.
(D)
A fotografia retrata um grupo, em sua maioria mulheres, com trajes rituais e
bonecas nas mãos, com tambores à frente. São adeptas da Casa das Minas, terreiro
tombado pelo IPHAN, situado em São Luís – Maranhão.
QUESTÃO 28
0000000000
ANGOLA JANGA I - ROMANCE GRÁFICO

Origem
Marcelo D' Salete. Angola Janga: uma história de Palmares.
São Paulo: Veneta, 2017.
ANGOLA JANGA II - ROMANCE GRÁFICO

ANGOLA JANGA III - ROMANCE GRÁFICO

ANGOLA JANGA IV - ROMANCE GRÁFICO

ANGOLA JANGA V - ROMANCE GRÁFICO

Levando em conta a observação das
imagens e seus conhecimentos sobre a história de Palmares, pode-se afirmar que:
Alternativas
(A) Usando termos em quimbundo, uma
língua banto, o título do romance gráfico destaca a importância de elementos da
África Central para a compreensão de Palmares.
(B) O autor do romance gráfico
representa, nessas páginas iniciais, as principais lideranças que Palmares -
que anos mais tarde assumiriam os nomes de Zumbi e Ganga-Zumba.
(C) A composição em preto e branco
reforça traços da fisionomia dos personagens, destacando escarificações e
também as marcas deixadas pela violência dos processos da escravidão.
(D) A instabilidade política e
econômica causada pela presença holandesa em Pernambuco, entre 1630 e 1654,
propiciou um aumento das fugas de escravos para Palmares.
QUESTÃO 29
Leia a seguir alguns excertos do
processo de exame censório para a peça “Pastel de Carne Humana ou Comi o meu
amigo”. Rio de Janeiro, 1852.
Requerimento
ao presidente do Conservatório Dramático Brasileiro solicitando exame censório,
para a peça “Pastel de Carne Humana ou Comi o meu amigo", 1852
Relatório
"a
- Requerimento (de Joaquim Candido da Silva Nazareth)
Illmo.
Snr
O
Incluso acompanha a Comedia em dous actos com titulo Pastel de Carne Umana, ou
Comi o meu Amigo, Original Francês traduzido pelo Illmo. Sr. José Manoel de
Santa Anna, afim de ser vista pelo Illmo Snr Membro do Conservatorio Bras. O
qual podendo levar em Scena a Sociedade Drammatica Particular Amazonas q lhe
tenho a honra de apresentar a V. Sª. a dita Comedia.
Sociedade
D. Particular Amazonas, 5 de Fevereiro 1854
Secretário
Joaquim Candido da Silva Nazareth
b
- Designação (de Joze Rufino Rodrigues de Vasconcelos)
O
Senhor Conselheiro Presidente do Conservatorio Drammatico Brasileiro, em
virtude das atribuições que lhe confere o Imperial Decreto de 19 de Julho de
1845 designa o Illmo. Sr. Dr. Carlos Luiz de Saules para interpor seu juiso
sobre o drama intitulado O Pastel de carne humana ou comi o meu amigo que se
lhe remete com esta, onde será exarado o seu parecer, tendo em vista as
disposições seguintes –
'Não
devem aparecer na scena assumptos, nem mesmo expressões menos conformes com o
decoro, os costumes e as atenções que em todas as ocasiões se devem guardar,
maiormente naquelas em que a Imperial Familia honrar com a Sua presença o
espectaculo.' (aviso de 10 de Novembro de 1843)
'O
julgamento do Conservatorio he obrigatório quando as obras censuradas pecarem
contra a veneração á nossa Santa Religião, contra o respeito devido aos Poderes
Politicos da Nação e ás Authoridades constituídas, e contra a guarda da moral e
decência publica. Nos casos porem em que as obras peccarem contra a castidade
da língua, e aquela parte que he relativa á Orthoepia, pode-se notar os
defeitos, mas não negar a licença.' (Resol. Imperial de 28 de Agosto de 1845)
Secretaria
do Conservatorio Drammatico Brasileiro, 5 de Fevrº de 1852
O
1º Secretario
c - Parecer (de Carlos Luiz de Saules)
Lemos
a comedia = O pastel de carne humana ou Comi o meu amigo = e por não julgarmos
conveniente que se habitue o povo a ouvir falar em comer carne humana como se
se tratasse de gallinhas, patos (inc), por julgamos extremamente imoral e
repugnante ouvir da boca de um individuo que de boa fé julgava ter comido carne
do amigo, que essa carne lhe parecia mui saborosa, e por outros motivos (inc)
(...) somos de opinião que se não dê a licença pedida (inc) (...)
d
- Despacho (de Diogo Soares da Silva de Bivar)
Usando
da atribuição que me confere a Lei nego por parte do Conservatorio D. B. a
licença pedida para a representação da Comedia O pastel de carne humana, a qual
não poderá subir á C(ena) em nenhum dos theatros desta Corte.
Rio
de Janeiro, em 21 de Fevereiro de 1852
Requerimento
ao presidente do Conservatório Dramático Brasileiro solicitando exame censório,
para a peça 'Pastel de Carne Humana ou Comi o meu amigo'. Rio de Janeiro, 1852.
(Coleção Conservatório Dramático Brasileiro (CDB) - Biblioteca Nacional)"
Sobre
este documento
Título
Requerimento
ao presidente do Conservatório Dramático Brasileiro solicitando exame censório,
para a peça “Pastel de Carne Humana ou Comi o meu amigo", 1852
Tipo
de documento
Relatório
Origem
Requerimento
ao presidente do Conservatório Dramático Brasileiro solicitando exame censório,
para a peça “Pastel de Carne Humana ou Comi o meu amigo”. Rio de Janeiro, 1852.
(Coleção Conservatório Dramático Brasileiro (CDB) - Biblioteca Nacional)
Créditos
Coleção
Conservatório Dramático Brasileiro
Palavras-chave
CENSURA
Sobre
o documento apresentado, podemos afirmar que:
Alternativas
(A)
Apresenta diferentes etapas da tramitação do exame censório aberto para que a
peça “O Pastel de Carne Humana” pudesse ser encenada no ano de 1852 no Rio de
Janeiro.
(B)
Carlos Luiz de Saules autorizou a licença solicitada por Joaquim Candido da
Silva Nazareth, secretário da Sociedade Dramática Particular Amazonas, com
pequenas alterações.
(C)
O Conservatório Dramático Brasileiro reforçava os laços entre o Império e a
intelectualidade e servia como órgão de controle para garantir a moral e o
respeito à Igreja.
(D)
O parecerista Carlos Luiz de Saules considerou a peça afrontosa no que diz
respeito à guarda da moral e da decência públicas.
QUESTÃO 30
Incêndio do Museu Nacional não é tragédia, mas fruto de um projeto de país
Blog
"O incêndio que consumiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, não pode ser encarado como uma tragédia. Um foco de fogo que destruísse uma obra, mas fosse rapidamente debelado seria uma tragédia. A queima de uma instituição com 200 anos e um acervo de 20 milhões de itens, que não contava com estrutura adequada de prevenção a incêndios, não é um acidente, mas um empreendimento. Um projeto coletivo, pacientemente implementado ao longo do tempo por um Estado e uma sociedade que condenaram seu patrimônio histórico, natural, científico e cultural à inanição.
O Brasil talvez acredite que uma instituição como essa diga respeito ao passado e não ao entendimento do presente e, portanto, à construção do futuro. Sua queima não é, consequentemente, apenas fruto das crises econômica e política que minguaram os repasses federais, mas faz parte de um sistema que atua abertamente para que o país continue ignorante sobre si mesmo e suas possibilidades.
Esse projeto coletivo não enxerga barreiras ideológicas e matizes políticos. Não começou neste governo (apesar dele ter se esforçado bastante nesse sentido) e nem irá terminar com ele (a PEC do Teto dos Gastos limitou o investimento em áreas como cultura por 20 anos). Pois não se trata apenas de recursos financeiros e vontade. Um fogo que consome um museu inteiro é paradigmático da ausência de um projeto nacional que veja esse patrimônio como subsídio fundamental para a construção de um país melhor. E que, portanto, precisaria ser protegido a qualquer custo.
Se assim fosse, haveria recursos para monitorar, conservar e estudar nosso patrimônio da mesma forma que existe para garantir o funcionamento dos mais diversos palácios que hospedam os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário pelo país. Até porque representantes políticos vêm e vão, mas nossa história fica. O povo seria o primeiro a ocupar os palácios para pedir recursos a museus.
Mas parte da população não se sente proprietária e corresponsável pela coisa pública pelos mais diferentes motivos. Empurrada para a franja da cidadania, uma parcela aprendeu que o patrimônio nacional não lhe diz respeito – uma falsa conclusão incutida em suas cabeças cuja reversão depende de um trabalho longo e demorado. Em outro extremo, há quem conheça bem os museus na Europa e nos Estados Unidos, mas conta nos dedos de uma mão o número de instituições brasileiras que já visitou por falta de interesse ou preconceito. Há também os que celebram os estádios superfaturados, mas não perdem o sono se uma fração dos desvios teria trazido alívio à cultura.
Desta vez, esse projeto coletivo destruiu o museu mais antigo do país. Mas, em maio de 2010, atingiu o maior e mais importante acervo de espécies de cobras tropicais do mundo, com mais de um século de existência, quando o Instituto Butantan, em São Paulo, pegou fogo. A coleção contava com mais de 80 mil espécimes, além de aranhas e outros animais, muitos dos quais nem haviam sido registrados ainda. Um patrimônio que poderia trazer respostas à biologia e à medicina.
Quando a notícia de 2010 correu o mundo, cientistas soaram o alarme – que hoje, assume-se, tinha caráter profético: 'tragédias' semelhantes aconteceriam em outras instituições dada a precariedade da manutenção desses espaços. Hoje, da mesma forma, sem medo de errar, podemos repetir: isso vai voltar a acontecer. A história não se repete mais como farsa, mas como escárnio.
Vivemos em um momento em que pessoas, sem o mínimo pudor, celebram nas redes sociais a queima do acervo, pois ele contaria uma história mentirosa, que não se encaixa a certas visões de mundo. Claro que são apenas uma (barulhenta) minoria, mas a burrice violenta sempre assusta. Tal qual as pessoas que comemoraram as montanhas de livros queimadas nas praças de diversas cidades da Alemanha nazista em 10 de maio de 1933.
Lembrando que burrice não é característica de quem separa sujeito e predicado por vírgula ou não sabe calcular uma raiz quadrada, mas de quem menospreza o conhecimento, chegando a odiar quem o detém ou quem busca seu aprendizado. O burro é aquele que tenta destruir o conhecimento que ameaça jogar luz sobre ele próprio. Essas pessoas têm sido essenciais para esse projeto coletivo que destrói o passado para construir um futuro à sua imagem e semelhança.
Nesse contexto, é irônico que o reluzente Museu do Amanhã tenha se tornado o centro das atenções da capital carioca – apesar de sua falta de importância relativa, enquanto o guardião da memória brasileira permanecia esquecido na Quinta da Boa Vista.
Talvez o Museu Nacional, ao se deparar com o momento atual do país, em que o conhecimento científico parece valer menos que achismos e opiniões sem embasamento e no qual fatos históricos são tratados como 'notícias falsas' diante das certezas anônimas e absolutas das redes sociais, tenha simplesmente desistido de resistir. E queimado mais rápido, por conta do desgosto.
O problema não resolvido é que, quando alheio à história de sua própria caminhada, o povo não é povo, mas gado. E, como gado, pode ser tocado por qualquer um. Ver esse prédio em chamas pela TV traz a sensação de que somos um amontoado de mugidos difusos que não tem ideia para onde está indo. Tampouco faz questão de saber."
Sobre este documento
Título
Incêndio do Museu Nacional não é tragédia, mas fruto de um projeto de país
Tipo de documento
Blog
Origem
Leonardo Sakamoto, 03 de setembro de 2018. Disponível em: https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2018/09/03/incendio-do-museu-nacional-nao-e-tragedia-mas-fruto-de-um-projeto-de-pais/
Créditos
Leonardo Sakamoto
Após
ler o texto de Leonardo Sakamoto escolha uma das alternativas:
Alternativas
(A)
Práticas políticas que tratam com descaso a pesquisa científica e as formas de
registro do passado e da memória negam o exercício pleno da cidadania.
(B)
O texto indica a ausência de políticas públicas de manutenção e preservação do
patrimônio histórico como principal responsável pelo incêndio do Museu Nacional
no Rio de Janeiro, em setembro de 2018.
(C)
Entre os muitos itens consumidos pelo fogo estava o original do mapa
étnico-histórico-linguístico elaborado pelo etnólogo alemão Curt Nimuendajú na
década de 1940.
(D)
Embora dramática, a perda de grande parte das obras e coleções do Museu
Nacional pode ser revertida a partir de réplicas e outros materiais simbólicos
daqueles que foram destruídos pelo fogo.
QUESTÃO 31
Leis os excertos abaixo e assinale uma
alternativa.
A
Boa Nova, 12/05/1877
Jornal
“Que
é o enterro civil?
É
a negação mais ou menos direta da imortalidade d’alma, que só existe pura e
integralmente no espiritualismo cristão.
O
enterro civil é, portanto, um atentado sacrílego contra a base de todas as
crenças, contra o eixo em torno do qual giram os interesses mais palpitantes da
sociedade”.
Sobre
este documento
Título
A
Boa Nova, 12/05/1877
Tipo
de documento
Jornal
Origem
REDAÇÃO.
A Boa Nova. Belém, 12 de Maio de 1877, pp. 3. In: SILVA, Erika A. O cotidiano
da morte e a secularização dos cemitérios em Belém da segunda metade do século
XIX (1850/1891). Dissertação - Mestrado em História - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2005, pp. 130.
Créditos
REDAÇÃO.
A Boa Nova
A
voz do caixeiro, 29/06/1890
Jornal
“Além
dos argumentos gerais, já aduzidos para justificarem a coletividade dos
decretos, acresce que, destinando-se a missão da Igreja ao preparo do homem
viador para os gozos da vida do além túmulo, desde que o espírito abandona seu
involutório, nada mais tem ela que ver em seus despojos: então pura matéria, a
matéria putrescível em sua composição infectuosa, cai sobre a alçada da polícia
sanitária, a quem incumbe especialmente de levar sobre a salubridade pública e,
portanto, de empregar os meios profiláticos próprios para a manter
inalteráveis, entre os quais figuram o do – quando – e do – como de – inumações dos cadáveres. Fica,
pois, claro que, longe de derrogar prerrogativas da Igreja, a medida adotada
aliviou-a de um ônus impertinente que a distraía e sua piedosa missão, que
então se restringe a orar pelos que eram de seu grêmio (...)”
Sobre
este documento
Título
A
voz do caixeiro, 29/06/1890
Tipo
de documento
Jornal
Glossário
Viador:
indivíduo que anda peregrinando na vida terrena ou transitória (em
contraposição ao que já passou à segunda vida ou vida eterna).
Putrescível:
que é suscetível de se putrefazer, de apodrecer.
Origem
REDAÇÃO.
A voz do caixeiro. Belém, 29 de junho de 1890. In: SILVA, Erika A. O cotidiano
da morte e a secularização dos cemitérios em Belém da segunda metade do século
XIX (1850/1891). Dissertação - Mestrado em História - Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2005, pp. 133.
Créditos
REDAÇÃO.
A voz do caixeiro
Alternativas
(A)
O processo de secularização dos cemitérios consistia em negar à Igreja sua
missão de salvadora das almas, migrando para o Estado esta atividade, o que era
amplamente reconhecido pela imprensa belenense.
(B)
Os documentos revelam as tensões entre os poderes espiritual e temporal, e as
formas de administrar suas divergências visando à convivência entre eles.
(C)
Os dois órgãos da imprensa belenense interpretaram o processo de secularização
dos cemitérios de formas diversas, respaldando-se em suas visões políticas e
religiosas.
(D)
A inauguração, em 1850, do primeiro cemitério público do Pará dá início a uma
intensa discussão sobre a secularização dos cemitérios, que passou, dentre
outras coisas, pela questão da tributação dos enterramentos.
QUESTÃO 32
Em
5 de julho de 2016, Daniel Munduruku fez uma palestra no Programa de Encontros
no MASP (São Paulo). Leia partes dessa fala:
Palestra
de Daniel Munduruku

Palestra
"Daniel
Munduruku: (...) Antes de mais nada, gostaria de me apresentar, porque
normalmente, quando olham para mim, é comum as pessoas me identificarem com um…
Público:
Índio!
Daniel
Munduruku: Como?
Público:
Índio!
Daniel
Munduruku: Com um cara bonito. [risadas] Sim, e depois com um índio também, é
verdade. E isso vem com uma imagem que foi sendo construída ao longo desses 500
anos e que gerou na cabeça das pessoas uma visão estereotipada. Dizem que o
Daniel parece com um índio: ele tem cara de índio, cabelo de índio, maçãs do
rosto de índio, olhinho puxado de índio, e claro, corpo esbelto de índio também
[risadas do público], portanto, isso o torna um… índio. E as pessoas insistem
em me chamar dessa maneira. Pois bem, apesar de toda essa aparência, de tudo
isso que me caracteriza como índio, queria dizer para vocês que eu não sou
índio. E mais: não existem índios no Brasil. Tudo isso é uma bobagem. Se
estiverem chocados, façam: 'Oooooooh'. [risadas] (...)
Público:
Ooooooh!!
Daniel
Munduruku: E eu diria mais a vocês: não existem índios no Brasil.
Público:
Ooooooh!!
Daniel
Munduruku: Muito bem, vocês aprenderam rápido. [risadas no público].
Brincadeiras à parte, quando eu faço essa afirmação, as pessoas realmente ficam
impactadas, porque já está muito registrado na cabeça delas que, por causa da
minha aparência, eu sou um índio. Mas não é assim que eu me vejo. E não é assim
que eu vejo as populações ancestrais do Brasil. O que vocês estão vendo, na
verdade, é uma imagem que foi sendo produzida ao longo do tempo. Resolveram nos
batizar, ou melhor, nos apelidar, por essa palavrinha (...) É uma palavra que
manifesta uma determinada postura das pessoas com relação à minha pessoa. Por
isso eu digo que é um apelido que nos colocaram. Não sabiam como nos chamar e
disseram que nós éramos os tais dos índios, porque erraram o caminho para
chegar às Índias – essa conversa que todo mundo já conhece e que acabou
determinando que os habitantes dessas terras se chamariam índios. Correto? E
além de ser uma história mal contada, a palavra índio não significa
absolutamente nada. Se vocês tiverem curiosidade de olhar num dicionário
depois, vão descobrir que a primeira entrada do Aurélio, por exemplo, diz o
seguinte: 'É o elemento químico nº 49 da tabela periódica'. Fiquei tão feliz
quando soube disso...
[risadas
no público]
Porque
já era conhecido como preguiçoso, selvagem, canibal, atrasado... E agora, um
elemento químico? Me senti orgulhoso, imagina. E essa palavra descrita dessa
maneira me suscitou outra questão: 'índio' não é radical de 'indígena'. Não sei
se vocês sabiam, mas é só uma mera coincidência chamar alguém de índio ou
indígena. A palavra 'índio' não tem significado específico em nenhum
dicionário. Quando muito a definição afirma assim: 'Relativo aos primeiros
povos'. Ela também não diz quem nós somos. Mas, com o passar do tempo, foi
revelando o que as pessoas pensavam a nosso respeito. Esse termo é um apelido.
E vocês sabem que não existem apelidos positivos. Todo apelido é uma negação.
(...) ao colocarmos um apelido em alguém, afirmamos o que a gente acha do outro.
E normalmente a gente acha que o outro é uma coisa ruim. Seja pela condição
social, seja pela cor da pele, pela opção sexual ou pelo que for. Sempre vamos
jogar no outro a visão que temos dele. As crianças, com quem eu converso muito,
são ótimas em colocar apelidos e vocês sabem disso. Os apelidos delas são muito
certeiros porque elas sabem machucar. E o apelido serve para isso, para
machucar. Eu diria que, ao reforçar a palavra 'índio' nas pessoas, estamos nos
reportando também àquilo que pensamos desses grupos humanos a quem chamamos de
índios. Quando ouvimos 'índio', normalmente temos duas posturas. A primeira
postura é romântica, aquela ideia do bom selvagem de José de Alencar (...):
'Ah, o índio é bacaninha, vive lá no meio da floresta, é o nosso passado, gente
boa, gente de bem, olha lá, não tem ganância, vive uma vida social muito
tranquila, nem bebe Coca-Cola...'. Esse é o sonho de consumo de todo mundo, não
é? Não a Coca-Cola, mas ser índio. E a escola reforça ou reforçou durante muito
tempo essa visão (...) Mas a pergunta que não quer calar é: que índio é esse?
Qual é o índio que a gente celebra no dia 19 de abril? É o índio do nosso
imaginário. Não é um índio real. Esse índio, que foi sendo tramado dentro da
nossa formação, não existe. E aí entra a minha afirmação: eu não sou e não
existo. Porque esse índio é um ser que foi sendo plantado na nossa história, e
nós fomos sendo obrigados a tratá-lo como ser folclórico (...). Provavelmente,
a maioria de vocês já ouviu a afirmativa de que índio é preguiçoso, certo?
'Índio atrapalha o progresso, o desenvolvimento'. 'Índio tem muita terra, pra
que tanta terra pra esses índios?'. 'Os índios são todos fajutos, não
contribuem para o Brasil crescer'. Certamente vocês já ouviram algumas dessas
coisas, que, aliás, estão na mídia direto, não é? Esse é o outro olhar, que
também mora dentro da gente. Inclusive quando dizemos assim: 'Ah, eu também sou
índio, minha vó foi pega, ela era bugre legítima'. Já ouviram essa expressão?
Isso mora dentro da gente (...) um pertencimento violento, inclusive. Quando as
pessoas me chamam de índio, eu fico irritado. Não gosto, não. E não gosto
porque não me identifico com aquilo que falam a meu respeito.
Essa
palavra define o que eu não sou. (...) quero lhes dizer que índio eu não sou.
Mas eu sou Munduruku. Ser Munduruku é diferente de ser índio. Ser Munduruku é
diferente de ser Wapichana, Kaiapó, Xavante, brasileiro. É diferente. Ser
Munduruku é ter uma ancestralidade, uma leitura do mundo, um jeito de ser
humano diferente dos outros povos. E é a partir desse lugar, do ser Munduruku,
que eu falo para vocês. (...) Aliás, talvez a maioria de vocês nunca tenha
ouvido falar de Munduruku, não é? A grande maioria nunca ouviu falar essa
palavra. Mas certamente vocês já ouviram falar de índio, certo?
Público:
Sim.
Daniel
Munduruku: Por quê? Ao aprendermos essa palavra, nós não aprendemos a chamar os
povos pelo nome. Então, ser Munduruku, nesse processo educativo, foi uma coisa
diluída. E o povo Munduruku existe, viu? É um povo grande, com cerca de 15 mil
pessoas. Nós estamos presentes em três estados brasileiros: no Pará, de onde eu
sou oriundo, com muito orgulho; no Amazonas, que foi onde o povo teve o
primeiro contato com a sociedade brasileira e, mais recentemente, um grupo
pequeno migrou para o Mato Grosso. Além disso, tem Munduruku aqui em São Paulo,
no caso, eu. [risos]
(...)
As histórias indígenas, sobretudo, mas as histórias em geral, têm um componente
que a gente esquece: normalmente elas são cíclicas ou circulares. O pensamento
indígena é um pensamento circular. O que significa isso? Significa que a gente
pensa em forma de espiral. Espiral é aquela mola que dá uma volta e se encontra
novamente no mesmo ponto. A espiral como pensamento é essa volta ao passado
necessária – é importante que a gente faça esse caminho de buscar no passado os
sentidos da nossa existência para podermos dar valor ao momento em que a gente
vive. O povo indígena não nega a sua memória, não nega a sua história. O tempo
inteiro ele busca no passado os sentidos para atualizar sua existência no
presente. Então, quando pensamos nas populações indígenas vivendo nos dias de
hoje, temos que considerar que elas estão fazendo uma atualização da própria
história. Vocês sabem que a cultura é algo dinâmico. Não existe cultura parada
no tempo. Aliás, existe sim, é a cultura morta (...) Porque a cultura, por si
só, é muito dinâmica. Ela precisa se atualizar para ser, para continuar
existindo. Quando pensamos a cultura indígena como uma cultura escrava do
passado, congelamos essa cultura. Quando atrelamos o tal do índio a uma imagem
do passado, não consideramos que a cultura se movimenta. E essa cultura precisa
se movimentar para continuar a existir. Então, quando as populações indígenas
dominam os mecanismos, os instrumentos que hoje a sociedade ocidental
desenvolveu, eles não fazem outra coisa a não ser atualizar a sua memória.
Quando usamos a literatura como instrumento, o vídeo, o violão, que não é um
instrumento tradicional indígena, mas que usamos com competência para sofisticar
a nossa própria experiência de humanidade, estamos sendo muito mais
inteligentes do que as pessoas pensam. Porque é muito interessante pensar que
os indígenas se aproveitam mais do conhecimento ocidental do que o Ocidente se
aproveita do conhecimento indígena. Ora, quem será mais inteligente nessa
história? O indígena faz muito mais esforço para entender o Brasil, do que o
Brasil para entender os indígenas. E nisso quem perde é o próprio Brasil,
porque cada vez mais os indígenas se articulam para dominar esses instrumentos
a fim de manter sua tradição. Falar em tradição faz parecer que perseguimos
coisas do passado. Tradição é metodologia. Usamos a tradição como forma de
manter nosso padrão educativo. Nós nos atualizamos, mas sem largar a tradição.
Então, no fundo, quando falo para vocês, com um instrumento que não é meu, uma
língua que não é minha, num lugar que não é meu, meu intuito é trazer a
mensagem de um povo ancestral, um povo tradicional. Com isso eu atualizo a
memória, não é? Quer dizer, é uma forma de se comunicar com a sociedade
brasileira.
(...)"
Sobre
este documento
Título
Palestra
de Daniel Munduruku
Tipo
de documento
Palestra
Origem
“O
ato indígena de educar(se), uma conversa com Daniel Munduruku” - Palestra realizada em 5 de julho de 2016,
dentro da ação de difusão da 32ª Bienal: Programa de Encontros no Masp.
Disponível em: http://www.bienal.org.br/post/3364
Créditos
Daniel
Munduruku
A
partir do documento e dos seus conhecimentos, escolha uma alternativa:
Alternativas
(A)
Ao fazer uma distinção entre índio, indígena e o povo a que pertence, Munduruku
critica o papel da escola que reforça uma visão homogeneizadora dos povos
indígenas.
(B)
Para o palestrante, a cultura viva e em transformação se opõe à tradição e à
ancestralidade, que são a base da identidade indígena.
(C)
Esperar que os povos indígenas correspondam a certas expectativas de
comportamento é, ao mesmo tempo, uma forma de desconhecimento e de dominação.
(D)
Ao negar ser índio, o palestrante esvazia a causa dos indígenas e sua luta
recente por participação política e reconhecimento de direitos.
QUESTÃO 33
Parede de Memória I
Instalação

Sobre este documento
Título
Parede de Memória I
Tipo de documento
Instalação
Origem
Rosana Paulino, (1994-2015) Parede de Memória. Acervo
Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Créditos
Rosana Paulino
PAREDE DA MEMÓRIA II - INSTALAÇÃO

Tipo de documento
Instalação
Origem
Rosana Paulino, (1994-2015) Parede de Memória. Acervo
Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Créditos
Rosana Paulino
Alternativas
(A)
“Parede de Memória” é uma obra da artista negra Rosana Paulino embasada em uma
série de fotografias originalmente produzidas em diferentes momentos e
dispostas lado a lado.
(B)
Ao construir uma “Parede de memória” baseada em fotos de família, Rosana
Paulino remete à noção de ancestralidade individual e coletiva.
(C)
A obra marca um ponto de ruptura na trajetória de Paulino, que, depois desse
trabalho, passou a usar fotografias ou imagens de rostos como matéria prima.
(D)
As fotografias foram transformadas em amuletos (patuás), remetendo, assim, a
práticas religiosas de matrizes africanas.
QUESTÃO 34 - TAREFA
Nesta
tarefa, fornecemos a vocês documentos históricos.
Vocês
já os conhecem, pois apareceram em nossas questões até esse momento.
Sua
tarefa é organizá-los de duas formas:
1)
Dentro de uma linha de tempo histórico de produção: coloque cada documento
dentro da época a que pertence, ou seja, a época em que foi originalmente
escrito ou produzido.
2)
Dentro de uma linha de tempo histórico do tema abordado: coloque cada documento
dentro da época a que se refere, ou seja, a época sobre a qual fala o
documento. Observe que um documento pode falar de um século específico ou
abordar períodos mais amplos, ou seja, abranger mais de um século.
Para
organizá-los, basta selecionar dentre a lista fornecida o período histórico que
considera correto.
Atenção!
O
sistema não permite o envio da tarefa a menos que todos os documentos estejam
relacionados ao seu século de produção e ao século a que se refere.
É
necessário confirmar a organização dos documentos depois que a sua equipe
terminar a tarefa. Ao clicar em “Salvar Rascunho” o trabalho fica salvo em modo
rascunho, e mesmo que você saia da página da Olimpíada e retorne depois, o
rascunho estará salvo e disponível.
O
botão "Entregar a questão" só fica disponível após todos os
documentos serem realacionados a um período de produção e um a que se refere e
de ser salvo em rascunho, ou seja, mesmo tendo preenchido toda a tarefa é
necessário salvar o rascunho para poder entregar a tarefa. O envio definitivo
ocorre apenas quando a equipe clicar em “Entregar a questão”. Após clicar em
“Entregar a questão” nenhuma alteração poderá ser feita. Por isso só clique em
“Entregar a questão” após ter organizado todos os documentos e ter certeza de
que deseja finalizar a tarefa.
Atividade
de ordenação de documentos
Adoreiiiii
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