A trajetória dos
docentes da escola piauiense é tão surpreendente quanto a de seus alunos. Desde
a implementação da unidade escolar, em 2003, até o ano passado, eles não tinham
sequer graduação completa, explica o professor de matemática Antonio Cardoso do
Amaral, apontado como o principal responsável pelos resultados da escola.
“Não foi nada
planejado. Começamos a trabalhar sem muita noção de onde queríamos chegar”, diz
Amaral, atualmente licenciado das aulas em Cocal – ele faz mestrado na
Universidade Federal do Piauí, em Teresina, desde o segundo semestre de 2011.
Mas os docentes sabiam
como fazer. “Nossa dificuldade inicial era a de colocar na cabeça dos meninos
que, mesmo sendo da brenha (do mato), eles poderiam se destacar nos estudos e
ter um futuro diferente”, diz a professora de português, Aurilene Brito, de 30
anos. A opinião é compartilhada pelo professor de química, Giovane Brito, de
29. “Nossa grande batalha foi convencer a primeira turma a acreditar que era
possível mudar e que eles poderiam ter um sonho.”
Esse era o grande
entrave: lutar contra a realidade de um município sem oportunidades de emprego
e de lazer, com índices de analfabetismo próximos a 40%. “Os alunos não
esperavam ter nenhum resultado a longo prazo com a educação. Eles só pensavam
em ter uma moto, dinheiro e trabalhar no Rio”, diz o coordenador pedagógico da
instituição, Darckson Machado.
Mas foi com o
acompanhamento presente dos professores, escola aberta também no fim de semana
e durante a manhã – período em que não há aulas regulares – que esse panorama
começou a mudar.
O foco no aprendizado
dos alunos é um dos requisitos considerados fundamentais para qualquer escola,
afirma o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse. “É tão
simples isso, mas a imensa maioria das escolas não consegue fazer o que essa do
interior do Piauí faz”, diz Alavarse.
Reprovação
Se parte da fórmula
atraiu apoio – a de dar importância de manter um relacionamento pessoal e
próximo aos alunos, com assistência, acompanhamento e reforço escolar para
todos –, a estratégia de reprovar os alunos que não tinham condição de passar
de ano enfrentou resistência da própria população. “Não foi fácil, a gente
achava que seria vencido pela reprovação”, admite Amaral.
O objetivo dos
professores, segundo ele, passou a ser adotar um dogma, o da “moralidade da
aprovação”, para passar mais credibilidade e seriedade de seu trabalho aos
alunos.
“Temos aulas em dois
turnos. A reprovação se concentra no da tarde e fica em torno de 10%,
principalmente no 1.º e no 2.º ano. No da noite, o problema é o da evasão no
3.º ano, quando os alunos saem da escola em busca de emprego na construção
civil no Rio de Janeiro”, diz Amaral.
O aluno reprovado é
“tratado como os outros”, mas tem acesso à monitoria de outros estudantes de
destaque pela manhã.
Mesmo com essas
particularidades, os professores preferem repassar o mérito aos alunos e
protestar contra a educação pública do País. “Na verdade, não somos bons. A
situação da escola pública tanto no Piauí quanto no Brasil é que é uma
calamidade, uma farsa”, diz Aurilene.
Fonte : http://www.estadao.com.br
Mais um excelente exemplo de iniciativa bem sucedida, com trabalho sério e comprometimento de todos.
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