A contribuição de Copérnico para
a ciência é mais complexa do que se supõe normalmente. Não se pode dizer que
ele tenha criado a teoria do heliocentrismo nem que tenha revolucionado sozinho
a astronomia. De acordo com Nigel Bannister, professor do departamento de
Física e Astronomia da Universidade de Leicester, no Reino Unido, o cientista
não poderia ser considerado “o pai da astronomia moderna”, como muitas pessoas
o tratam. “Títulos assim são sempre problemáticos. Não há dúvida de que
Copérnico deu enormes contribuições à astronomia, e é certamente um dos
gigantes na história da astronomia como uma ciência moderna, mas existem muitos
outros que fizeram descobertas ou postularam teorias que são tão importantes
quanto. Eu tenderia a chamá-lo de um dos pais fundadores da astronomia moderna,
já que seu trabalho promoveu uma grande mudança na compreensão do sistema solar
e do nosso lugar no universo”.
No século 16, época de Copérnico,
a teoria de Ptolomeu, de que a Terra encontrava-se no centro do universo, não
era apenas observação empírica, destituída de instrumentos apropriados, mas
também de crença religiosa. Para substituir o geocentrismo pela ideia de que
era o nosso planeta que girava em torno do Sol, o cientista e matemático
polonês partiu de fundamentos gregos propostos por Aristarco de Samos 1,8 mil
anos antes. “Como era praxe no renascimento, ele foi buscar nos clássicos
gregos uma inspiração”, afirma Augusto Damineli, professor de pós-graduação do
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de
São Paulo (IAG-USP). “Ele retomou a ideia de que seria mais natural que os
corpos menores girassem em torno do maior (o Sol). Remontou então esse sistema
que havia sido abandonado 250 anos antes de Cristo e colocou nele os avanços
dos sistema geocêntrico (excêntricos, epiciclos e deferentes)”.

Mais tarde, Johannes Kepler
descobriu que órbitas elípticas eram a resposta para descrever os movimentos
planetários. “A tal ‘Revolução Copernicana’ precisou de várias outras
contribuições para acontecer”, explica Damineli. Assim, segundo ele, a mudança
de paradigma se deve ao resultado combinado da teoria de Copérnico com avanços
posteriores, de nomes como Kepler, Galileu Galilei, Tycho Brahe e Isaac Newton.
A igreja e o geocentrismo
A religião acompanhou Copérnico
desde cedo. Órfão aos 10 anos de idade, o garoto foi criado pelo tio, então
bispo de Ermland. Mais tarde, uma de suas irmãs virou freira, e um de seus
irmãos, padre. Já adulto, Copérnico conciliou suas atividades como astrônomo,
matemático e jurista com o trabalho de cônego na Igreja Católica de
Frauenburgo.
Paradoxalmente, as ideias de um
cientista tão influenciado pela igreja iam de encontro ao que a religião
pregava. Para o catolicismo, a Terra era o centro do universo. Tratava-se de
suposição válida, contando os instrumentos de observação disponíveis, a
tendência ao antropocentrismo e uma interpretação rígida da bíblia. Contudo,
mesmo naquela época, Copérnico não era uma voz única. Havia outros cientistas
com ideias semelhantes, a quem o polonês ofereceu leituras de sua teoria antes
que ela fosse publicada.
Nova vida a uma ideia antiga
O livro De revolutionibus orbium
coelestium veio a público apenas em 1543, pouco depois da morte de Copérnico,
aos 70 anos. Devido ao falecimento do autor e a um capítulo inicial
relativizando as posições defendidas pelo cientista - supostamente escrito por
outra pessoa, à sua revelia -, o material não causou grande controvérsia.
Assim, o astrônomo foi poupado do fanatismo religioso que levou, no século 17,
Galileu Galilei à prisão.
Além de suas próprias e
revolucionárias descobertas no campo da física e da astronomia, Galileu
defendia e aprimorava a visão de Copérnico, em contraposição ao geocentrismo
defendido pela Igreja Católica. Com essa posição, foi conduzido aos tribunais
da inquisição. Acusado e ameaçado, teve de se retratar. O cientista estava
certo, mas a igreja não concedeu tão rapidamente. Somente 350 anos após a morte
de Galileu, no dia 31 de outubro de 1992, o papa João Paulo II reconheceu os
enganos cometidos pelo tribunal eclesiástico.
Muito antes da inquisição,
colocar a Terra no centro do mapa espacial foi um erro. Já se teorizava que o
nosso planeta orbitava o Sol antes do nascimento do astrônomo polonês, em 1473.
Mas os cálculos e a coragem do cientista foram responsáveis por “dar nova vida
a uma ideia muito antiga e por sua adoção na ciência moderna”, segundo Bannister.
Hoje, depois de muito tempo, apoiado pela astronomia e por cientistas como
Copérnico, o homem enxerga mais longe.
Fonte: http://tecnologia.terra.com.br
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