"Dar provas,
corrigi-las e entregá-las não é mais suficiente para mim. Preciso saber onde
estou falhando para planejar o que e como ensinar"
Cristiane Ishihara,
professora de Matemática da 5ª série no Colégio Assunção
"É preciso romper
definitivamente o estereótipo do mestre com a fita métrica na mão, pronto para
medir, julgar e rotular cada um de seus estudantes"
Luiz Carlos de Menezes
Fonte: Revista Nova Escola
A avaliação
educacional, em geral, e a avaliação de aprendizagem escolar, em particular,
são meios e não fins, em si mesmas, estando assim delimitadas pela teoria e
pela prática que as circunstancializam. Desse modo, entendemos que a avaliação
não se dá nem se dará num vazio conceitual, mas sim dimensionada por um modelo
teórico de mundo e de educação, traduzido em prática pedagógica. (LUCKESI,
1995, p. 28).
Reconhecer as
diferentes trajetórias de vida dos educandos implica flexibilizar os objetivos,
os conteúdos, as formas de ensinar e avaliar, ou seja, contextualizar e recriar
o currículo. Segundo Luckesi (1995), a avaliação tem sua origem na escola
moderna com a prática de provas e exames que se sistematizou a partir do século
XVI e XVII, com a cristalização da sociedade burguesa.
A prática de avaliação
da aprendizagem que vem sendo desenvolvida nas nossas instituições de ensino
nos remete a uma posição de poucos avanços. Não tem sido utilizada como
elemento que auxilie no processo ensino aprendizagem, perdendo-se em mensurar e
quantificar o saber, deixando de identificar e estimular os potenciais
individuais e coletivos.
Encontramos em Luckesi
(1995), alguns pontos que nos auxiliam a compreender estas questões. O ato de
avaliar tem sido utilizado como forma de classificação e não como meio de
diagnóstico, sendo que isto é péssimo para a prática pedagógica. A avaliação
deveria ser um momento de “fôlego”, uma pausa para pensar a prática e retornar
a ela, como um meio de julgar a prática. Sendo utilizada como uma função
diagnóstica, seria um momento dialético do processo para avançar no
desenvolvimento da ação, do crescimento para a autonomia e competência. Como
função classificatória, constitui-se num instrumento estático e freador do
processo de crescimento, subtraindo do processo de avaliação aquilo que lhe é
constitutivo, isto é, a tomada de decisão quanto à ação, quando ela está
avaliando uma ação.
Desta forma, a
avaliação desempenha um papel significativo para o modelo social
liberal-conservador, ou seja, o papel disciplinador. Os “dados relevantes” que
devem ser considerados para o julgamento de valor, tornam-se “irrelevantes”,
sendo que o padrão de exigência fica ao livre arbítrio do professor. O
professor ao planejar suas atividades não estabelece o mínimo necessário a ser
aprendido efetivamente pelo aluno, utilizando-se da “média” de notas, o que não
expressa a competência do aluno, não permitindo a sua reorientação. A média
então, é realizada a partir da quantidade e não da qualidade, não garantindo o
mínimo de conhecimento, (LUCKESI, 1995). Esta prática torna a avaliação nas
mãos do professor um instrumento disciplinador de condutas sociais,
utilizando-a como controle e critério para aprovação dos alunos, buscando
controlar e disciplinar, retirando destes a espontaneidade, criticidade e
criatividade, transformando-os reféns de um sistema autoritário e
antipedagógico.
A aprendizagem neste
contexto, deixa de ser algo prazeroso e solidário, passando a ser um processo
solitário e desmotivador, contribuindo para a seletividade social,
principalmente para atender as exigências do sistema econômico vigente.
Segundo Hoffmann (1996,
p.66):
Quando a finalidade é
seletiva, o instrumento de avaliação é constatativo, prova irrevogável. Mas as
tarefas, na escola, deveriam ter o caráter problematizador e dialógico,
momentos de trocas de idéias entre educadores e educandos na busca de um
conhecimento gradativamente aprofundado.
O educador, ao lidar
com a avaliação da aprendizagem escolar, deve ter em mente a necessidade de
colocar em sua prática diária, novas propostas que visem a melhoria do ensino,
pois a avaliação é parte de um processo e não um fim em si e deve ser utilizada
como um instrumento para a melhoria da aprendizagem dos educandos. Diz
Hoffmann:
A avaliação, enquanto
mediação, significa encontro, abertura ao diálogo, interação. Uma trajetória de
conhecimento percorrida num mesmo tempo e cenário por alunos e professores.
Trajetos que se desencontram, por vezes, e se cruzam por outras, mas seguem em
frente, na mesma direção (2005, p. 40).
Para redirecionar a
prática de avaliação faz-se necessário assumir um posicionamento pedagógico
explícito, com um redimensionamento global das práticas pedagógicas de modo a
orientá-la, no planejamento, na execução e na avaliação.
Nesta perspectiva, para
que se dê um novo rumo à avaliação seria necessário o resgate da sua função
diagnóstica, ou seja, deveria ser um instrumento dialético do avanço, um
instrumento de identificação de novos rumos. “Enfim, terá de ser o instrumento
do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a
serem perseguidos” (LUCKESI, 1995, p.43).
Não há como negar que
na avaliação, as disciplinas usam como critério as notas e todas atribuem pesos
diferenciados para cada atividade, dependendo do grau de valoração de cada uma,
de acordo com critérios estabelecidos somente pelos professores. A avaliação da
aprendizagem é feita de forma a classificar o aluno num certo estágio de
desenvolvimento.
A partir desta análise,
podemos dizer que a prática “dita” como avaliação da aprendizagem, não passa de
uma verificação da aprendizagem. Como refere Luckesi (1995), este fato fica
claro na escola brasileira, quando observamos que os resultados da aprendizagem
têm tido a função de estabelecer uma classificação do educando que se expressa
em aprovação ou reprovação.
Nas práticas
pedagógicas preocupadas com a transformação, a avaliação é utilizada como um
mecanismo de diagnóstico da situação enxergando o avanço e o crescimento e não
a estagnação disciplinadora. Sendo assim, para romper com o modelo de sociedade
devemos romper com a pedagogia que o traduz. A partir dessas observações, passa
a haver uma questão: a avaliação da aprendizagem na prática escolar tem sido um
mecanismo de conservação e reprodução da sociedade através do autoritarismo?
A avaliação
constitui-se em um momento dialético de reflexão sobre teoria-prática no
processo ensino aprendizagem. Nesta perspectiva, além dos aspectos cognitivos,
os aspectos de natureza não cognitiva (afetividade, participação, compromisso,
responsabilidade, interesse, habilidades e competências) têm que ser
considerados.
Fonte: http://luciamirte-avaliacao.blogspot.com.br/
REFERÊNCIAS:
HADJI, C. Avaliação
Desmistificada. Trad. Patrícia C. Ramos.Porto Alegre:Artmed Editora, 2001.
HOFFMANN, J. Avaliar
para Promover. 7. ed.,Porto Alegre:Mediação,2005.
_____________Avaliação
Mediadora: uma prática em construção da pré-escola à Universidade. 8. ed.,
Porto Alegre : Mediação, 1996.
LUCKESI, Cipriano C.
Avaliação da aprendizagem escolar.São Paulo: Cortez, 1995.
" SE NÃO AMO O
MUNDO, SE NÃO AMO A VIDA, SE NÃO
AMO OS HOMENS, NÃO ME É POSSÍVEL O
DIÁLOGO."
( Freire, 1979, p. 94 )
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