Entrevista de Emília Ferreiro
à Revista Nova Escola. O tema da entrevista é:
Alfabetização nos Dias Atuais.
Alfabetização nos Dias Atuais.
Todos sabem que sou
entusiasta do tema, e por este motivo, transcrevi aqui a entrevista. Além da
transcrição, estou publicando o vídeo.
Mas antes de iniciar a
entrevista, vamos saber quem é Emília Ferrero.
ENTREVISTA:
Entrevistadora: Alguns
falam de alfabetização digital, o que você pensa disso?
Emília: Uns passam boa
parte da vida lutando contra os termos, e sobretudo, o uso que se faz de alguns
termos. Eu não gosto de "alfabetização digital". E por que não gosto?
Porque simplesmente creio
que a alfabetização própria para esse século XXI, que estamos vivendo, inclui
os objetos, todos os objetos sobre os quais circulam imagens e textos. E não se
pode excluir alguns. Uma época se usava o quadro negro e o aluno que estava
alfabetizado para a lousa, estava bem. Depois, há que alfabetizar para outros
tipos de objetos, como os livros de estudo. Hoje em dia, há que alfabetizar ,ou
melhor, introduzir a uma cultura escrita em que os objetos de produção de
escrita, têm variado enormemente, e nos quais as superfícies sobre as quais se
realizam as escritas, também têm variado enormemente, incluindo todos os
processos digitais que hoje conhecemos e os que vão vir. Hoje em dia, em um
contrato se assinam cláusulas inconcebíveis. Há poucos anos, se escreveu em uma
cláusula que esta obra pode ser reproduzida em qualquer tipo de superfície que
conhecemos e que vamos conhecer, com programas de tal e qual tipo... Ninguém
sabe o que vai vir, mas temos que estar preparados para as mudanças muito
rápidas e para uma coisa que... se queremos que alguém saiba escrever com
distintos tipos de grafia, tudo bem. Em qualquer processador de palavras se
pode escolher a opção cursiva, como se pode escolher a opção letra gótica, como
se pode escolher escrever os caracteres todos em maiúscula. Temos uma grande
liberdade hoje em dia para escolher os caracteres, com os quais , vamos
produzir mensagens e textos.
Entrevistadora: temos uma
tipografia dentro do computador que as pessoas não percebem.
Emília: Isso não existia
antes, era um recurso de imprensa, de outros profissionais, hoje é um recurso
para qualquer pessoa. Sejamos honestos. Quantas crianças mandam mensagens de
texto por um celular e não usam os dedos tradicionais das mãos, usam os
polegares, e os usam com grande eficiência. O polegar não era um dedo
particularmente interessante para aprender a escrever. O polegar não produzia
letras. Agora os polegares produzem letras. E agora se escreve com as duas
mãos, não somente com uma. Então, há algumas discussões que já envelheceram
tanto, mas tanto, que não é possível que sigam ocupando o espaço mental das
pessoas! Eu peço desculpas por não estar respondendo adequadamente as perguntas
sobre letra cursiva para esse programa. Então não há palestras em que não apareçam
perguntas sobre o que fazer com os canhotos. Já não há canhotos ou destros, há
teclados. Se escreve com as duas mão e o teclado nos liberou dessa coisa tão
complicada que eram os destros e os canhotos. Então, por favor, façamos as
perguntas sobre a aprendizagem da língua escrita de acordo com o tempo
histórico em que vivemos. E não sigamos fazendo as perguntas que tem mais de um
século de atraso.
Fonte: Revista Nova Escola
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